Até aqui a estratégia do Presidente da República foi uma preciosa ajuda ao André Ventura, ao ser o guarda-chuva permanente do Governo acabou por “abafar” um PSD incapaz de o criticar por ser um dos seus, tornando o CHEGA num depositário das intenções de voto dos que não se reviam no governo.
António Costa tirou muito proveito deste modelo de concubinato em que Marcelo Rebelo de Sousa se enredou, como se o apoio que lhe era dado pelo Presidente da República anulasse a oposição. Percebendo que mesmo perdendo votos podia permanecer no governo depois das próximas eleições, António Costa tudo tem feito para polarizar a oposição ao governo no CHEGA.
A estratégia é perversa, vemos um primeiro-ministro de esquerda a tudo fazer para promover o CHEGA, quase tratando o André Ventura como líder da oposição, porque o crescimento da extrema-direita acaba por servir a sua estratégia política. Por um lado aponta o CHEGA como a verdadeira oposição ao poder e, por outro lado, elimina-se o líder do PSD encostando-o ao CHEGA. Até se fica com a sensação de que mais do que as intenções de votos no PS, as intenções de voto que mais chama a atenção de muito boa gente quando saem sondagens é a relação de votos entre o PSD e o CHEGA.
Esta estratégia é ainda mais óbvia na candidatura óbvia de Augusto Santos Silva, que parece querer fazer currículo político como uma espécie de herói da luta parlamentar contra o André Ventura. Ele faz currículo à esquerda e o André Ventura assume o protagonismo que lhe é dado. A consequência é óbvia, a atividade parlamentar durante este mandato é marcada pelas disputas entre Augusto Santos Silva e André Ventura, um coloca-se em posição para se candidatar a PR e o André Ventura ganha com esta bipolarização inédita ente PS e CHEGA.
Esta rotura entre o Presidente da República e o governo é saudável para a democracia e ao fim de anos no desempenho no cargo pela primeira vez vimos que Marcel, afinal, é mesmo Presidente da República, já que até aqui parece ter sido uma espécie de ajudante de campo de António Costa.
O regime democrático português não é presidencialista, mas também não é uma espécie de monarquia eleita, em que o monarca não passa de uma figura decorativa do primeiro-ministro, parecendo ter menos poderes do que o Rei Carlos III ou o presidente da República Federal da Alemanha.
Mais do que uma crise política estamos perante a reposição da normalidade na. Democracia portuguesa. Marcelo mais não faz do que assumir uma posição que já vimos em Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio e, concorde-se ou não, o crime de que agora acusam Marcelo rebelo de Sousa foi o mesmo que Jorge Sampaio exigiu a demissão de Armando Vara Vara.