O que é necessário para que em Portugal se considere que há responsabilidade política e um ministro decida pedir a demissão antes que alguém o exija?
Pela postura de ministros como Eduardo Cabrita fica-se com a sensação de que confunde responsabilidade política com responsabilidade criminal, isto é, este ministro só poderia a demissão no momento em que a GNR lhe batesse à porta com um mandato de prisão, isto é, para este tipo de gente confunde-se responsabilidade criminal, como não sou, não mandou nem foi ele que matou não tem nada que ver com o caso a não ser porque, por mero acaso, é ministro da Administração Interna.
Mas, como é costume, o boi da piranha já foi atirado ao rio, quando as piranhas estiverem de barriga cheia a manda já pode ir tranquilamente para o prado do outro lado do rio. Quando se deu o caso atirou-se a bola para canto, tudo estava na justiça e por justiça entende-se fazer esquecer o caso. Entretanto a justiça fez a sua parte e as coisas não estão bem, atira-se a diretora para o rio e assunto resolvido.
Mas esqueceram-se de que mataram alguém que em pleno século XXI e num país onde o discurso oficial defende, com razão, de que precisamos da mão de obra dos emigrantes, veio a Portugal em busca de trabalho. Veio a um país da EU, ainda por cima um país que sabe muito bem o que são abusos policiais e torturas, um país governado por uma esquerda que faz bem em não se cansar de lembrar o fascismo.
Ainda por cima esse cidadão tinha esposa e dois filhos, mesmo assim esqueceram-se de que há Skype, jornalistas e tradutores. De um dia para o outro soubemos o suficiente para nos envergonharmos ainda mais. Um Estado tortura por prazer, mata e nem sequer se dá ao trabalho de pagar a trasladação do corpo da vítima. Sim o Estado, o homem foi morto em instalações onde se devia sentir seguro, estava ao cuidado de agentes policiais com formação, chefias e governo, num edifício onde está a bandeira portuguesa hasteada.
E o que faz o ministro? Atira a diretora do SEF para a fogueira, diz que o Provedor de Justiça lá decidirá quanto é que vale a vida do cidadão (incluirá a tortura na fatura?) e fica tranquilo porque na sala da tortura passa a haver um botão de pânico, a partir de agora os torturados pedem um intervalo aos algozes, para tocarem o botão de pânico. Imagino que o Aeroporto passará a ter um grande cartaz informando: se lhe derem uma carga de porrada peça por gentileza que lhe digam onde está o botânico de pânico. Enfim, um grande progresso, já que até agora só havia o Livro Amarelo.
É uma pena que além de um botão de pânico não possamos contar com um botão de ejeção, porque a esta hora já o teria carregado e estaríamos livres deste ministro.
Esperemos que em vez de ser demitido não se lembrem de
propor o Eduardo Cabrita para Nobel da Paz, por ter inventado o botão de
pânico.