Sem culpa nenhuma o governo está a passar um mau bocado por
causa do oportunismo de gente menor do aparelho social e aos oportunistas desse
buraco negro que é a famosa “economia social”, um mundo de virtudes e de gente
com lugar garantido no céu. E se os bois ou os bondosos são com muita frequência
exemplares menos recomendáveis, quando se misturam, como vimos em Reguengos, transformam-se
em velhacos refinados.
António Costa ou a ministra da Saúde têm responsabilidades? É
evidente que têm, deviam ter-se lembrado de António Guterres e declarado bem alto
“no vaccines for de bois”. Era certo e sabido que sem qualquer vigilância a campanha
de vacinação se poderia transformar num imenso regabofe.
Infelizmente não só houve o devido cuidado como quando se
tornou público o primeiro caso, o do autarca de Montemor, em vez de ter havido
uma reação isenta e dura, assistimos a um secretário de Estado da Saúde tentar
dar cobertura ao seu colega de partido. Foi preciso o governo ver a informação
inundada de casos sucessivos, alguns, como o das vacinas ao pessoal da pastelaria
do Porto, a roçar o ridículo.
Quem foi o responsável por tudo isto? Foi quem avisado para
os riscos de fraude pela OMS andou a distribuir vacinas como distribui papo-secos,
o país gastou fortunas com grandes escoltas armadas, receando que algum gangue
roubasse as vacinas para vender as seringas no “Casal Ventoso”,esquecendo que
nestes casos os ladrões são outros.
O responsável da task force nem se preveniu nem deu as
instruções mais elementares, o que fazer às vacinas que sobrassem, foi preciso
ver o governo que o nomeou estar a ser queimado na praça pública, por causa da
sua incompetência para ser ultrapassado pela DGS, que deu as instruções que ele
se esqueceu de dar.
Era mais do que óbvio que o homem tinha sido um erro de
casting e que foi mais eficaz para conseguir apoios para o CHEGA do que a
campanha do Ventura nas presidenciais, talvez por isso tenha misturado política
partidária com discursos institucionais, numa tentativa de conseguir apoios na
guerra de barricadas com o CHEGA.
Um caso menor e pouco grave no Hospital da Cruz Vermelha, a
que ele preside designado pela Santa Casa, permitiu-lhe sair por cima. Com uma
jogada manhosa fez uma limpeza na direção clínica do hospital e saiu por cima,
sendo agora apresentado como exemplo de dignidade, obviamente colocou o lugar à
disposição e, como se esperava, em poucos minutos foi mantido no lugar. Com
esta jogada saiu airosamente, lavou a incompetência e deixou o governo à beira
de uma crise.
Enfim, um artista português. O primeiro-ministro e a
ministra que confiaram na sua competência levam bordoada na opinião pública e o
responsável por isto tudo, não assumiu as responsabilidades pela sua competência
e sai como modelo de dignidade, por causa de uma única vacina ministrada a uma
médica. Não teria sido mais digno se tivesse pedido a demissão por causa das
vacinas ministradas na pastelaria ou ao autarca de Reguengos?
PS: Curiosamente, o BE que costuma ser muito lesto a pedir demissões, desta vez deu umas cambalhotas oratórias, mas não pediu a demissão do responsável.