Vacinar milhões de pessoas com vacinas que são transportadas e conservadas com recurso a temperaturas negativas extremas, vacinar lares, pessoal médico e grupos prioritários ao mesmo tempo que o país luta contra uma terceira vaga imparável, mobilizar os recursos humanos dos centros de saúde para a vacinação quando estes centros têm de compensar a incapacidade por parte dos hospitais de responder a muitas situações.
Fazer tudo isto hierarquizando os cidadãos, sabendo-se que as bases de dados não estavam preparadas para esta tarefa, que os recursos administrativos na saúde são escassos, que muitos doentes de risco são “desconhecidos” no SNS por não terem médico de família, analisar todos os pedidos vindo de cidadãos considerados nos grupos prioritários que não estão registados nos centros de saúde.
Fazer tudo isto, ajustando as prioridades redefinidas para acorrer a grupos inicialmente esquecidos, num ambiente se suspeição e com gente como a Ordem dos Médicos a promover petições depois de terem feito as suas propostas. Decidir sobe a atribuição da vacina a milhares de cidadãos idosos ou com morbilidades, sabendo que ao mais pequeno engano pode ocorrer uma denúncia e um pequeno descuido conduz à suspeição e ao risco de enfrentar uma acusação por parte do MP.
Nos dias que passam não deve ser fácil trabalhar na saúde, num dia o pessoal dos centros de saúde e dos hospitais são heróis, no outro são vilões porque um médico de medicina interna com 70 anos foi vacinado “indevidamente” porque alguém se enganou na ficha e escreveu que era cirurgião, um escândalo que levou a uma heroica demissão do senhor das vacinas.
Fazer tudo isto trabalhando horas a fio por um país que os tem tratado tão mal, que com o Paulo Macedo como ministro iam sendo reduzidos financeiramente a domésticas. Gente que não cobra as horas extraordinárias que faz num contexto de guerra, que recebem ordenados miseráveis, com médicos especialistas que ganham menos do que muitas empregadas domésticas bem sucedidas.
É verdade que vimos muitas situações oportunistas, desde bois sem escrúpulos a senhores misericordiosos sem limites no oportunismo. Mas é importante que estes velhacos não nos façam esquecer o esforço feito por muitos milhares de pessoas do SNS, que a troco de quase nada e muitas vezes a vacinarem outras pessoas quando os próprios não foram vacinados e mesmo assim não deixam de mostrar um sorriso no rosto.
É verdade que somos um país cheios de velhacos, que à
primeira oportunidade vão para o CHEGA ou outra coisa qualquer falar mal do
país, mas também é verdade que são muitos mais os que estão dando o seu melhor
por uma campanha de vacinação que nunca poderia ser exemplar, mas que apesar da
falta de recursos e dos oportunistas do costume, não fica atrás de nenhum país.