domingo, julho 11, 2021

PELOURINHOS

Às vezes fico com a impressão de que a nossa justiça recuperou os pelourinhos como forma de castigo público daqueles que os magistrados consideram, desconfiam ou tiveram um palpite de que terão cometido algum crime. Uma justiça que até 194 não teve qualquer credibilidade e que desde então nunca conseguiu ter grande imagem, tenta agora exibir-se perante a opinião pública, levando ao pelourinho personalidades caídas em desgraça. 

Com jornalistas, humoristas e políticos a ignorar de forma oportunista o princípio da presunção da inocência, os nossos magistrados levam personalidade que o povo odeia depois de um longo período de bajulação, para sessões de exorcismo coletivo, em pelourinhos instalados na rua, junto dos gabinetes dos juízes de instrução. 

Pouco importa se as vítimas da ida ao pelourinho vão ser ilibados um ou dois anos depois, ou que as acusações venham a ser reduzidas a quase nada, há que matar as saudades do povo dos espetáculos das fogueiras e dos suplícios no pelourinho. Arranjam-se umas acusações com base em palpites, depois de um trabalho de investigação em bases de dados conduzida por um qualquer manga de alpaca e levam-se as novas “bruxas de Salem” ao juiz de instrução. 

Pouco importa a Constituição ou que um dos principais papeis dos juízes de instrução seja defender dos cidadãos dois abusos dos investigadores policiais, agora os juízes de instrução são justiceiros famosos e como disse um advogado carimbam o que lhes diz o MP. Pior, estamos num tempo em que alguns juízes de instrução fazem eles próprios de mandantes do pelourinho. 

Os que devem à banca que se cuidem, porque se as bases de dados tiverem informação que com palpites criativos podem ser transformados em acusações carimbáveis, vão parar ao pelourinho. Antes disso, o espetáculo tem de ser montado como deve ser e terão de ser mantidos detidos e expostos ao povo, com fugas de informação a informar a população do libelo acusatório que justifica o suplício. 

A nossa justiça está com tanta vontade de fazer justiça que primeiro tortura e condena e só depois vai ver se acertou nos palpites a que agora designam por “fortes indícios”.