Quando Cavaco era primeiro-ministro ficou a definição que deu do papel dos secretários de Estado, não passavam de modestos ajudantes dos ministros. Aina assim e durante muitos anos a escolha dos “ajudantes dos ministros” era criteriosa, e era frequente ver a exercer estas funções gente com méritos reconhecidos no mundo das ciências, da economia ou da cultura e com currículo feito nas empresas ou nas academias.
Nos governos de Durão Barroso, António Guterres e José Sócrates, ainda que desde o tempo da definição de Cavaco Silva nunca tenham deixado de ser meros ajudantes dos ministros, vimos secretários de Estado cujo nome mereceu ficar na nossa memória.
Nos últimos tempos o critério deixou de ser a competência técnica ou o mérito pessoal, o principal critério é a confiança do primeiro-ministro e a lealdade dos governantes em relação ao chefe. Pouco importa a inteligência ou capacidade, não importa que sejam burros, o importante é que bajulem os primeiros-ministros ao logo do mandato.
Quando ouvimos uma ministra da Agricultura festejar aquilo que ainda era uma epidemia de Covid 19 na Républica popular da China, porque daí resultariam oportunidades para exportar mais carne de porco para aquele país, nem vale a pena perguntar quem é a senhora e não nos passa pela cabeça querer saber quem são os seus ajudantes. Quando soubemos que o adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil, que conduziu a famosa compra das golas para os incêndios a uma empresa de “gajos do partido” era ajudante numa padaria, temos tudo dito sobre o viveiro de inteligência em que foram convertidos os gabinetes de alguns ministros.
Já pouco me preocupa o eu os ministros pensam ou se dizem o que pensam ou o que lhes mandam pensar, estou mais atento à forma como falam e às baboseiras que dizem. O “último artista” que me fez rir foi o agora e finalmente ministro da Saúde, quando perante o conflito de interesses que são óbvios no plano ético e da famosa ética republicana, respondeu com ar de grande político que tinha delegado competências sobre a Ordem dos Nutricionistas, presidida pela esposa num secretário de Estado.
Sejamos honestos, desde há alguns anos que muitos secretários de Estado foram despromovidos, em vez de ajudantes de ministro não passam de caniches dos ministros. Sugerir que um secretário de Estado é independente do ministro, ou mesmo dos famosos “gajos do partido” é gozar com quem pensa. Para que um secretário de Estado fosse independente do ministro teria de ser membro do governo espanhol e mesmo assim estaríamos desconfiados dessa independência se os governos fossem da mesma cor política.