quinta-feira, setembro 29, 2022

AUTOS DE FÉ DEMOCRÁTICOS



Nunca fui simpatizante ou admirador de Duarte Lima, não gostei dele como político e do pouco que sei dele como pessoa nunca o teria como amigo e até evitaria tê-lo como mero conhecido. Se cometeu crimes deve assumir a responsabilidade por eles e coo político que teve no topo do poder nos tempos de Cavaco Silva não deve ter perdão, porque os políticos em quem confiamos e a quem atribuímos poderes que um cidadão comum não tem, devem responder exemplarmente pelos crimes que cometem.

Mas não me move qualquer ódio pelo ser humano e não sinto qualquer prazer por o ver preso, da mesmo forma que  não sinto qualquer dor por saber que está preso. Cumpre aquilo que a lei prevê e ponto final. Mas a lei não permite a pena do achincalhamento público e desde o tempo em que acabaram os pelourinhos ou os autos de fé que a humilhação e o espetáculo público deixaram de ser instrumentos da justiça.Por isso senti vergonha ao assistir ao espetáculo da “reprisão” de Duarte Lima. Se a lei impede que a detenção seja feita num local privado e tem que ser uma detenção à porta da prisão, como vi há poucos minutos na TV e em direto, não posso aceitar que seja detido com microfones junto da boca do agente da autoridade que está a executar o mandato de detenção, o que sugere a presença de jornalistas junto dos agentes da autoridade, junto à porta da orta do estabelecimento prisional, por onde iria sair o político.

Como democrata e defensor de uma sociedade moderna senti repulsa por aquilo que vi e sinto alguma vergonha por isto suceder na democracia que tanto custou a muitos conquistar. Se é assim que lei determina, então que se mude a lei porque nenhum preso, nem ser for alguém que detesto , deve perder o seu direito a ser tratado com dignidade.