Se há tema que merece um debate sério e com o envolvimento dos portugueses, para que os partidos sintam que o que propõem e votam tem em com sideração a opiniões dos seus eleitores, é o regime de pensões.
Não entendo, pois, por que motivo o primeiro-ministro decidiu dispensar-nos de pensar sobre o nosso futuro, transformando aquilo que parece ser uma reforma encapotado do regime de pensões num falso pacote de caridade institucional, para compensar o aumento brutal do custo de vida, transformando uma pequena parte do aumento das receitas fiscais em gorjeta social.
Este é um bom exemplo de como neste país a política desapareceu, dando lugar a selfies e a golpes de comunicação. Só que desta vez as coisas correram mal ao “rei das selfies” e ao primeiro-ministro, Um prometeu antes do verão que em setembro apresentaria um pacote de medidas sociais, o outro não perdeu tempo a elogiar as medidas.
Depois foi a cacofonia comunicacional a que assistimos, primeiro era um aumento, depois era preciso assegurar a sustentabilidade do sistema de pensões, a seguir multiplicaram-se as entrevistas para sugerir que ninguém perdia. Só ninguém explicou se com este momento de generosidade do primeiro-ministro o rendimento anual dos pensionistas ia aumentar ou diminuir ao longo dos próximos anos.
Não custaria nada ao primeiro-ministro em vez de se desdobrar em comícios encenados ou em entrevistas combinadas, apresentar as contas com um exemplo numérico. As tais contas que o o Presidente da República diz que precisa de ver. Coitado, primeiro aprovou e depois deu uma cambalhota e tirou uma selfie de pernas para o ar.
Enfim, começa a parecer-me que Passos Coelho e António Costa são mesmo muito diferentes. O primeiro tirava uma chouriça e prometia que um dia todos receberíamos um porco. O segundo dá-nos um chouriço mas esquece-se de dizer que depois teremos de lhe dar um porco.