domingo, agosto 04, 2013

Ali Baba e os 40 Ladrões

No país em que todo um povo sofre uma dose suplementar de austeridade brutal desnecessária e perversa porque um primeiro-ministro imberbe e irresponsável decidiu castigar os portugueses da Metrópole porque terão gasto em demasia é imoral que o ministro dos Negócios Estrangeiros tenha beneficiado de um negócio à margem das regras do mercado e tenha ganho centenas de milhares de euros que estão sendo pagos pelos mais pobres.
 
A verdade é que os dinheiros fáceis ganhos por algum dos nossos políticos, mais fácil do que o ganho pelas putas, vai ser pago com o despedimento de funcionários públicos. São quinhentos mil euros e é fazer uma contas para se perceber que dezenas de famílias vão perder a forma de vida para que os Machetes possam ser ricos ou ainda mais ricos. É imoral que alguém que já se devia ter retirado da política considere podridão de terceiros a discussão das suas formas de ganhar dinheiro fácil.
 
O governo que começou por inventar esqueletos no armário e que perante as dúvidas não hesitou no recurso à mentira manhosa e maldosa deveria ter o cuidado de arregimentar gente lavadinha, sem cheirar a lixo tóxico. É uma prova de falta de respeito pelo país e de burrice a contratação de um secretário de Estado que se dispôs a ajudar um governo a viciar as contas públicas, para enganar o país e a União Europeia.
 
Este senhor não passa de um pequeno bandido que já deveria estar a contas com a justiça pela tentativa de burla que protagonizou. Mas em Portugal estes rapazolas que ganham fortunas na banca são pequenos deus para jotas imbecis doutorados na universidade de Castelo de Vide, para não referir a mais etílica universidade de Verão de Porto Santo.
 

Mas parece que o país assiste a uma reedição do Ali Baba e os Quarenta Ladrões, só ainda não se percebeu bem se o governo já conseguiu reunir os quarenta ladrões ou se já ultrapassou este número. 

sábado, agosto 03, 2013

Oportunismo orçamental

O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais não podia ter sido mais claro, é a redução da despesa pública estrutural que vai financiar o aumento dos lucros após impostos das grandes empresas. Isto é, para que a EDP, a PT, os bancos e outras empresas aumentem os lucros terão de ser despedidos trabalhadores no Estado. E tal como em muitos locais eram os próprios judeus a cavar as suas covas, também no Estado uns terão de trabalhar mais horas para que o colega do lado possa ser despedido.
 
Cortam-se os vencimentos, aumentam-se os descontos e aumenta o horário de trabalho sem qualquer contrapartida ou negociação para que o Estado faça o mesmo com menos funcionários. O argumento foi a aproximação ás regras do sector privado, o que é mentira. A banca, um dos sectores que mais vai ser beneficiado com a redução do IRC pratica o horário de 37 horas de trabalho semanais. Para que os bancos tenham mais lucros os trabalhadores do Estado terão de trabalhar mais horas, para que alguns deles possam ser despedidos.

É a primeira vez que num país democrático e civilizado se faz tal coisa, obrigam-se uns a trabalhar mais para compensar a perda de recursos humanos resultante dos despedimentos e com os dinheiros poupados reduzem-se as taxas de impostos sobre os lucros. O argumento é o de que se criará emprego, mas os grandes ganhadores do negócio não criar um único emprego e alguns deles, como é o caso da banca até estão a despedir trabalhadores por imposição da Comissão Europeia.
 
É evidente que o povo português vai concorda r e se alguém imagina que vai haver uma revolta que se desiluda, os portugueses são um povo frustrado que graças ao discursos dos políticos em que não confiam consideram que os culpados de todos os males são os funcionários públicos. Se alguém lhes disser que o despedimento de 150.000 funcionários é a solução para todos os seus males apoiarão o governo de Passos Coelho com a mesma convicção com que os alemães apoiaram a ascensão de Hitler. Até porque no discurso oficial os funcionários são seres aberrantes que só provocam despesa e estão a mais no Orçamento.
Quando os portugueses perceberem que foram ludibriados e verem que o dinheiro poupado com os funcionários foi para os mesmos que se apossaram das ajudas da adesão à CEE e de uma boa parte da actual dívida soberana nada poderão fazer. Vão eleger mais outro jota que voltará a fazer tanta merda como o actual e um dia destes acabará por acontecer uma revolução a sério neste país.
 
É bom dizer a Seguro que quando se dispõe a negociar a reforma do IRC pouco importa se amanhã o governo lhe fizer o frete de aceitar uma ou duas discussões, mais importante do que isso é que Seguro está a aceitar a aprovar esta transferência forçada de riqueza feita da forma mais brutal possível, despedindo um para entregar os seus vencimentos aos donos da banca, das eléctricas, das telecomunicações, sem qualquer contrapartida em criação de emprego ou em investimento. É com isto que Seguro estará a concordar, é com este dinheiro sujo que as suas sugestões vão ser financiadas.

sexta-feira, agosto 02, 2013

No que deu o complexo de inferioridade

O pessoal dessas universidades cujos diplomas têm desconto em cartão do Continente tem um certo fascínio pelas vedetas dos MBA. Dantes haviam economistas e gestores de empresas, depois apareceram os MBA que muito graças ao prestígio de um curso da Nova e a uma turma de ouro dessa universidade.
 
Os MBA tornaram-se vedetas nacionais e alguns símbolos de sucesso de alguns dos alunos da Nova tornaram os alunos do MBA verdadeiras vedetas da economia, falam do que sabem e principalmente do que não sabem, reduziram a economia e a política económica a golpes de magia financeira.
 
Não deve ser fácil a alguém com um curso modesto de uma dessas universidades onde as primeiras cadeiras de economia são futebol de salão I e futebol de salão II conviver com a sua pequenez intelectual. Não é fácil e depressa se tornam vítimas do fascínio por essa palavras em inglês que Cavaco, num momento de desespero, disse nada percber.
 
Imaginem o vistaço que um qualquer tigre de um dos bancos na moda faria a teorizar sobre swaps ao lado de iletrados como o Relvas ou o Passos Coelho., O resultado foi o que se viu, o governo é uma montra de tigres do MBA, quase todos eles com currículo em feitiçaria financeiras.
 
Passos Coelho está a pagar caro o fascínio que esta gente lhe despertava, cada cavadela uma minhoca e não há secretário de Estado que tenha usado serviços bancários para além de levantamento no Multibanco que não tenha as cuecas machadas com essa caca dos swaps. É de tal forma que um deles, aliás, uma deles até já chegou a ministra. E chegou a ministraporque sabia muito de política económica? Não, porque parece ter jeito para vender dívida soberana a fundos especulativos. Imaginem de onde vem este jeitinho para o negócio.
 

Enfim, se o governo do Santana Lopes foi um flope é caso para dizer que o de Passos foi um swap que lhe deu.

quinta-feira, agosto 01, 2013

A mentirita

Num país onde se mente, onde é necessário nascer meia dúzia de vezes na tentativa vã de ser mais honesto do que Cavaco Silva, convenhamos que a mentirita da Maria Luís nem sequer tem grande gravidade. Se a Maria Luís fosse demitida por causa da sua ou sua mentiritas o coitado do homem de Massamá até perderia a nacionalidade.

Enquanto se discute a questão semântica da narrativa de Maria Luís, um argumento usado por um conhecido alarve que escreve no Jornal de Negócios e de vez em quando dá ares de comentador económico com um QI ligeiramente acima do do orangotango, ninguém reparou na facilidade com que o marido da senhora arranjou emprego na EDP, um daqueles empregos maravilhosos em que nada fazemos e nos mandam o vencimento para casa.
  
Não se discute também se a senhora está à altura da pastas e se o facto de ter conseguido convencer alguns especuladores internacionais a comprar dívida portuguesa a mais de 5% é suficiente para assegurar que a senhor sabe o que quer que seja de política económica ou de política orçamental. A verdade é que a senhora tem uma licenciatura em gestão numa dessas universidades em que o diploma tem desconto no cartão Continente, mais um mestrado em questões monetárias ou, para ser mais preciso, nessa coisa dos derivados, de que a senhora nada sabia nem tinha ouvido falar.
  
Se a oposição fosse inteligente até teria agradecido a Passos a escolha da Maria Luís e a Cavaco o factpo de ter dado posse entre dois carapaus alimados, em termos intelectuais esta senhora é uma sombra do Gaspar e se o antecessor errava nas previsões a actual ministra nem as vai conseguir fazer. 
  
Mas já que é de mentiras que se fala o mais grave da mentirita da Maria Luís não está na dimensão, na semântica ou na eventual diferença entre o que disse e o que queria dizer, está sim no facto de ter sido um pequeno golpe sujo. A Maria Luís não terá mentido para se defender ou para entreter a populaça, o que fez foi tentar passar a outros responsabilidades que eram suas e isso é bem mais grave do que mentir.

Mas, por favor, mantenham a Maria Luís no lugar.
 
PS: O bom exemplo do Cavaquismo

O governo de Sócrates devia ter seguido o exemplo de Cavaco, o homem a quem bastou nascer uma vez para ser o modelo de virtudes que todos conhecemos. Quando o falecido Sousa Franco chegou ao ministério das Finanças não haviam pastas, ficheiros com os dados do OE, os computadores tinham apenas o sistema operativo e as etiquetas dos telefones tiram sido trocadas pelos que nos primeiros dias não se conseguia fazer um telefonema para o número pretendido.
  
Compare-se com o que se vai dizendo sobre a passagem de dossiers entre os governso de Sócrates e de Passos Coelho.

Votar bem nas autárquicas

Em Portugal tornou-se uma verdade quase absoluta a de que o mundo das autárquicas é um mundo de gente exemplar dedicada à causa pública, empenhada no bem comum e gastando o dinheiro de forma mais eficaz. Mentira, o mundo das autarquias significa em muitas terras deste país corrupção, incompetência, populismo, oportunismos, jogos sujos, caciquismo e esbanjamento de dinheiro.
 
Na minha terra o PCP ajudou o PSD a chegar ao poder numa autarquia onde nunca um responsável da direita pensou ser possível, Mete uma história estranha de reuniões secretas, de candidatos independentes, de pequenas trocas e Monte Gordo, um bastão do PCP mais sólido do que o Alentejo votou obedientemente do candidato da direita, lembrando os famosos sapos engolidos quando Soares venceu Freitas do Amaral nas eleições presidenciais.
 
Por estranho que pareça tal aliança entre o PCP e o PSD não o é, o ódio ideológico do PCP ao PS leva a que quer ao nível nacional, quer ao nível autárquico o PCP seja um candidato bem mais sólido do PSD do que se tem revelado o CDS. Mas no caso da minha terra a candidatura apresentada pelo PS era de ir ao vómito e vómito por vómito o diabo que escolha.
 
O PS é um partido monárquico, ali ser filho de uma personalidade de peso é sinal de uma carreira fácil, ter sangue azul coloca estes jovens acima da carne seca. Não admira que na minha terra seja candidato do PS o filho do senhor que governou tão bem a autarquia que a entregou à direita. Mas no PS a vontade do povo pouco conta para a nobreza por lá instalada, o que conta são os laços familiares, de clã, a notoriedade resultante dos favores passados. Ter feito um grande favor a Almeida Santo é garantia de poder até à quinta geração.
 
Escolho a minha terra como exemplo repelente, mas a verdade é que esse exemplo é generalizado, uma boa parte das candidaturas autárquicas apresentam sinais óbvios de podridão, mas mesmo assim os partidos insistem nelas. Por isso é muito difícil votar nas autárquicas de acordo com as convicções, os princípios e os projectos, o mais certo é sermos obrigados a votar no menos mau, no menos corrupto ou menos podre.
 

Por mais se aumente o divórcio entre o povo e os partidos estes são incapazes de inverter esta tendência, a corrupção, os compadrios e os jogos sujos são mais fortes. Resta-nos votar o menos mal possível.