Em Portugal tornou-se uma verdade quase absoluta a de que o
mundo das autárquicas é um mundo de gente exemplar dedicada à causa pública,
empenhada no bem comum e gastando o dinheiro de forma mais eficaz. Mentira, o
mundo das autarquias significa em muitas terras deste país corrupção,
incompetência, populismo, oportunismos, jogos sujos, caciquismo e esbanjamento
de dinheiro.
Na minha terra o PCP ajudou o PSD a chegar ao poder numa
autarquia onde nunca um responsável da direita pensou ser possível, Mete uma
história estranha de reuniões secretas, de candidatos independentes, de
pequenas trocas e Monte Gordo, um bastão do PCP mais sólido do que o Alentejo
votou obedientemente do candidato da direita, lembrando os famosos sapos
engolidos quando Soares venceu Freitas do Amaral nas eleições presidenciais.
Por estranho que pareça tal aliança entre o PCP e o PSD não
o é, o ódio ideológico do PCP ao PS leva a que quer ao nível nacional, quer ao nível
autárquico o PCP seja um candidato bem mais sólido do PSD do que se tem
revelado o CDS. Mas no caso da minha terra a candidatura apresentada pelo PS
era de ir ao vómito e vómito por vómito o diabo que escolha.
O PS é um partido monárquico, ali ser filho de uma
personalidade de peso é sinal de uma carreira fácil, ter sangue azul coloca
estes jovens acima da carne seca. Não admira que na minha terra seja candidato
do PS o filho do senhor que governou tão bem a autarquia que a entregou à
direita. Mas no PS a vontade do povo pouco conta para a nobreza por lá
instalada, o que conta são os laços familiares, de clã, a notoriedade
resultante dos favores passados. Ter feito um grande favor a Almeida Santo é
garantia de poder até à quinta geração.
Escolho a minha terra como exemplo repelente, mas a verdade
é que esse exemplo é generalizado, uma boa parte das candidaturas autárquicas apresentam
sinais óbvios de podridão, mas mesmo assim os partidos insistem nelas. Por isso
é muito difícil votar nas autárquicas de acordo com as convicções, os
princípios e os projectos, o mais certo é sermos obrigados a votar no menos
mau, no menos corrupto ou menos podre.
Por mais se aumente o divórcio entre o povo e os partidos
estes são incapazes de inverter esta tendência, a corrupção, os compadrios e os
jogos sujos são mais fortes. Resta-nos votar o menos mal possível.