sábado, agosto 03, 2013

Oportunismo orçamental

O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais não podia ter sido mais claro, é a redução da despesa pública estrutural que vai financiar o aumento dos lucros após impostos das grandes empresas. Isto é, para que a EDP, a PT, os bancos e outras empresas aumentem os lucros terão de ser despedidos trabalhadores no Estado. E tal como em muitos locais eram os próprios judeus a cavar as suas covas, também no Estado uns terão de trabalhar mais horas para que o colega do lado possa ser despedido.
 
Cortam-se os vencimentos, aumentam-se os descontos e aumenta o horário de trabalho sem qualquer contrapartida ou negociação para que o Estado faça o mesmo com menos funcionários. O argumento foi a aproximação ás regras do sector privado, o que é mentira. A banca, um dos sectores que mais vai ser beneficiado com a redução do IRC pratica o horário de 37 horas de trabalho semanais. Para que os bancos tenham mais lucros os trabalhadores do Estado terão de trabalhar mais horas, para que alguns deles possam ser despedidos.

É a primeira vez que num país democrático e civilizado se faz tal coisa, obrigam-se uns a trabalhar mais para compensar a perda de recursos humanos resultante dos despedimentos e com os dinheiros poupados reduzem-se as taxas de impostos sobre os lucros. O argumento é o de que se criará emprego, mas os grandes ganhadores do negócio não criar um único emprego e alguns deles, como é o caso da banca até estão a despedir trabalhadores por imposição da Comissão Europeia.
 
É evidente que o povo português vai concorda r e se alguém imagina que vai haver uma revolta que se desiluda, os portugueses são um povo frustrado que graças ao discursos dos políticos em que não confiam consideram que os culpados de todos os males são os funcionários públicos. Se alguém lhes disser que o despedimento de 150.000 funcionários é a solução para todos os seus males apoiarão o governo de Passos Coelho com a mesma convicção com que os alemães apoiaram a ascensão de Hitler. Até porque no discurso oficial os funcionários são seres aberrantes que só provocam despesa e estão a mais no Orçamento.
Quando os portugueses perceberem que foram ludibriados e verem que o dinheiro poupado com os funcionários foi para os mesmos que se apossaram das ajudas da adesão à CEE e de uma boa parte da actual dívida soberana nada poderão fazer. Vão eleger mais outro jota que voltará a fazer tanta merda como o actual e um dia destes acabará por acontecer uma revolução a sério neste país.
 
É bom dizer a Seguro que quando se dispõe a negociar a reforma do IRC pouco importa se amanhã o governo lhe fizer o frete de aceitar uma ou duas discussões, mais importante do que isso é que Seguro está a aceitar a aprovar esta transferência forçada de riqueza feita da forma mais brutal possível, despedindo um para entregar os seus vencimentos aos donos da banca, das eléctricas, das telecomunicações, sem qualquer contrapartida em criação de emprego ou em investimento. É com isto que Seguro estará a concordar, é com este dinheiro sujo que as suas sugestões vão ser financiadas.