Sem quaisquer sacrifícios uns quantos enfermeiros conseguem
paralisar os principais bancos de cirurgia dos hospitais portugueses matando
muitos coelhos com uma cajadada. Tiram uns dias de férias pagas, criam
condições para provocar a morte de portugueses ajudando a direita a chegar ao poder
e ajuda as contas dos hospitais privados.
A direita agradece, desestabiliza a democracia num momento
em que está desorientada, ajuda os grupos privados da saúde que ao lado dos do
ensino são os seus principais apoiantes e provavelmente financiadores e
promovem a desestabilização do SNS para que ponham em causa a sua existência.
Tudo isto é legítimo em democracia, mas a partir do momento
em que tudo é financiado de forma anónima também é duvidoso. Em finais do século
XIX os trabalhadores solidarizavam-se para sobreviverem à fome quando faziam
greve, mas à medida que os rendimentos dos trabalhadores foram melhorando essa
solução entrou em desuso, passaram a ser os sindicatos a dar apoio financeiro
com base nas quotizações.
O financiamento privado de uma greve nada tem que ver com
este passado, estamos perante grevistas que estão longe das dificuldades de
outros tempos ou mesmo da maioria dos trabalhadores portugueses que têm feito
greve. Mas pior do que ser privado é ser confidencial e quando se sabe que num
tempo recorde foi recolhido quase meio milhão de euros e agora pede-se outro
tanto, há razões mais do que legítimas para se poder suspeitar de que poderão
ser interesses privados a financiar esta greve.
E quem nos garante que um dia destes comecem a surgir
sindicalistas a venderem-se para promover greves para destruir setores do
Estado ou até para prejudicar umas empresas em favor de outras? Quando uma
greve é financiada nestes termos tudo é possível, até porque a história mostra
que os sindicatos têm um longo passado de vulnerabilidade à corrupção.
EM tempos um congresso de magistrados foi patrocinado por
entidades como o BES, quem nos garante que daqui a uns anos os juízes não se
lembram de seguir o modelo dos enfermeiros e bloqueiam a justiça portuguesa com
recurso ao pagamento aos grevistas com base em receitas doadas ao abrigo do
anonimato?
Enfim, agora que estamos na quadra natalícia começo a
acreditar que há mesmo o Pai Natal e que algum político enriquecido recebeu
tudo do Pai Natal que por sua vez recorreu ao crowdfunding para conseguir o
dinheiro para comprar uma casinha na Quinta do Lago, um Ferrari ou um iate para
lhe oferecer.