sábado, setembro 05, 2020

QUEREM VER QUE FASCISTA SOU EU?

Ouvi dizer que ilustres personalidades vão testemunhar num julgamento de um tal Rui Pinto, ao que parece testemunhará um diretor da PJ, uma ilustre ex-deputada do PE e eventual candidata a candidata presidencial, um grande líder trotskista e mais algumas pessoas que não conheço nem me parece que deva ter interesse em conhecer. Se gente tão ilustre, defensora por estatuto político ou profissional da legalidade e dos princípios constitucionais, fico com a sensação de que desde que os plenários foram encerrados que não terá havido um julgamento político como o desse tal Rui, que pelo que dizem está entre os maiores defensores da democracia, desde que os capitães de Abril tiraram o país dessa letargia de ditadura e cobardia coletiva.

Mas há aqui qualquer coisa de errado. Acabámos com a ditadura para que os direitos constitucionais fossem respeitados, para que não existissem juízes armados em polícias e polícias armados em juízes, para que não nos violassem a privacidade e sem quaisquer regras.

Somos uma democracia e temos um estado de direito, os polícias não podem investigar qualquer cidadão só porque não gosta, desconfia dele ou é detestado por questões pessoais. Há regras para a investigação, não se investiga por investigar confundindo indícios sólidos com opiniões, ódios ou desconfianças pessoais. Não se investiga um escritório de advogados porque não gosto ou desconfio do patrão, não se invade a privacidade de um clube só porque soou do outro e quero destruir o rival.

Mas fico surpreendido quando vejo uma deputada em quem votei, um líder trotskista e um diretor nacional da PJ a testemunharem a favor de alguém que fez tudo isso, fico ainda mais surpreendido ao saber que os meus valores são considerados inimigos da sociedade em favor de alguém que defende que em vez de um estado de direito devemos estar sujeitos aos seus poderes ilimitados. Afinal o democrata e o defensor dos valores da democracia, é o Rui Pinto, que parece que tem um certificado assinado pela deputada, pelo grande líder e pelo diretor da PJ.

Esperem lá, mas se um perigosos assassino matar um político de que eu não gosto deve ser defendido por deputados e polícias que são a favor da pena de morte. E ainda vão concluir que com o homicídio o país ficou melhor e ainda poupou em burocracias judiciais?

Esperem lá, se um qualquer carteiro vigarista abrir toda a correspondência em busca de cheques de velhinhos e no meio das cartas encontrar uma carta com uma encomenda de droga deve ser protegido e ter direito a casa do estado porque é um herói no combate ao tráfico de droga.

Bem, parece que terei de me demitir de democrata. Se um diretor da PJ testemunha em favor da violação das regras mais elementares da democracia porque considera que os poderes absolutos dos antigos agentes da PIDE se justificam no combate ao crime. Se um líder proletário e uma ilustre deputada europeia do partido fundado por Mário Soares concordam com essa teses.

Enfim, o errado estou eu e terei de reformular os conceitos de democrata e passar a ser um refinado filho da puta. Talvez chegue a Presidente da República ou a governador do BP colocado no cargo por uma qualquer nova geringonça desengonçada. Tudo isto faz-me lembrar a anedota do compadre que foi apanhado no bordel a meio de uma rusga; uma era manicure, a outra cabeleireira e o pobre compadre exclamou “querem ver que a puta sou eu?” É assim que eu me sinto, no meio de um bordel.