Os nossos heróis voltaram de Sevilha, feridos como se tivessem regressado da Batalha das Laranjas, e o nosso Presidente da República já lá estava à sua espera, como se tivesse acabado de regressar um avião cheio de soldados feridos no Zaire.
Desta vez não tiveram direito a medalhas, mas esperemos que o Presidente não se tenha esquecido de lhes levar pasteis de Belém, para lhes adoçar as bocas, até porque estas deveriam estar a saber a papel de música.
Finalmente terminou o espetáculo deprimente do futebol exibido pela seleção com alguns dos melhores jogadores europeus. Mas todos sabemos que se o engenheiro pudesse escolher uma seleção do mundo e no dia seguinte jogasse contra o Liechtenstein, o mais certo é que jogasse à defesa. Foi assim que chegou a campeão europeu, era assim que esperava renovar o título e como todos nós somos uns patetas, já nos prometeu que iria ganhar o mundial.
Num país onde o ótimo é inimigo do bom, onde se promove a mediania e onde não ter a posta do meio nos torna tão apetitosos ou apetitosas como as sardinhas, seria estranho se mesmo com bons jogadores um selecionador se lembrasse de ambicionar ter uma equipa a jogar bem.
No fundo o engenheiro representa o melhor da alma portuguesa
e não é apenas na sua devoção aos pastorinho, representa a nossa mediania,
falta de ambição e nivelamento de tudo por baixo. Neste país ser ambicioso é
defeito, ser brilhante é andar à procura de protagonismo e com treinadores
destes foi tão injusto Portugal perder como o autor dos bonecos do Major Alvega
nunca ter ganho o mercado Prémio Nobel da Literatura.