quarta-feira, setembro 05, 2018

ERA DE ESPERAR


Um dos piores argumentos em favor da recondução de um Procurador-Geral da República é o de que se meteu com os poderosos, ainda que até agora pouco mais tenha sido julgado do que uma caixa de robalos. É a mesma coisa que elogiar os resultados do fisco com base nas correcções que foram exigidas, em vez de contabilizar a receita efectivamente usada.

Corre-se um sério risco de que a justiça passe a trabalhar em função da fotografia, com os seus dirigentes a gerirem o sistema com o objectivo de conseguirem muitas notícias envolvendo políticos de topo. Se ainda por cima o sucesso é medido pelas acusações ou mesmo pelas investigações, muito antes de qualquer caso ir a julgamento há um sério risco de assistirmos a um regabofe de prisões.

Outro subproduto deste modelo é a violação sistemática do segredo de justiça, já que quem quer dar nas vistas na comunicação social quer que esta saiba de tudo, em vez de se manter o segredo faz-se o que se pode e o que não se pode para que nada fique em segredo.

Estando para breve a nomeação do Procurador-Geral da República, a única entidade que não podendo ser julgada, avaliada ou condenada pode mandar prender todos os políticos, era de esperar que o espectáculo noticioso fosse alimentado e mal acabou o mês de Agosto foi o que se viu, iam levando o Benfica ao Mário Alexandre para que este metesse o Estádio da Luz no Estabelecimento Prisional de Lisboa.

Mas não deixa de ser estranho que uma conhecida procuradora-geral adjunta tenha ido ao prós e contras assegurar que os principais processos estavam a salvo de toupeiras, porque os magistrados desconfiam, do Citius e não os usam nestes processos, para pouco tempo depois ser produzida uma acusação que assegura precisamente o contrário. Há aqui algo de errado.