Um dos piores argumentos em favor da recondução de um
Procurador-Geral da República é o de que se meteu com os poderosos, ainda que
até agora pouco mais tenha sido julgado do que uma caixa de robalos. É a mesma
coisa que elogiar os resultados do fisco com base nas correcções que foram
exigidas, em vez de contabilizar a receita efectivamente usada.
Corre-se um sério risco de que a justiça passe a trabalhar
em função da fotografia, com os seus dirigentes a gerirem o sistema com o
objectivo de conseguirem muitas notícias envolvendo políticos de topo. Se ainda
por cima o sucesso é medido pelas acusações ou mesmo pelas investigações, muito
antes de qualquer caso ir a julgamento há um sério risco de assistirmos a um
regabofe de prisões.
Outro subproduto deste modelo é a violação sistemática do
segredo de justiça, já que quem quer dar nas vistas na comunicação social quer que
esta saiba de tudo, em vez de se manter o segredo faz-se o que se pode e o que
não se pode para que nada fique em segredo.
Estando para breve a nomeação do Procurador-Geral da
República, a única entidade que não podendo ser julgada, avaliada ou condenada
pode mandar prender todos os políticos, era de esperar que o espectáculo noticioso
fosse alimentado e mal acabou o mês de Agosto foi o que se viu, iam levando o
Benfica ao Mário Alexandre para que este metesse o Estádio da Luz no
Estabelecimento Prisional de Lisboa.
Mas não deixa de ser estranho que uma conhecida
procuradora-geral adjunta tenha ido ao prós e contras assegurar que os
principais processos estavam a salvo de toupeiras, porque os magistrados
desconfiam, do Citius e não os usam nestes processos, para pouco tempo depois
ser produzida uma acusação que assegura precisamente o contrário. Há aqui algo
de errado.