terça-feira, março 31, 2020

UMA COMUNICAÇÃO DESASTROSA




Uma nova tendência Primavera/Verão?
A DG da Saúde esta semana no canal S+ vestida com um casaco decorado com o coronavírus?


A diretora-geral da Saúde está a tornar-se uma caricatura e parece que ainda não percebeu que a comunicação não serve para trabalhar a sua imagem mas sim para influenciar quem a ouve para que tenha comportamentos que evitem o crescimento exponencial da pandemia. Parece que não aprendeu com o erro do famoso cenário do milhão e voltou a exibir-se com conjeturas sobre o cordão sanitário do Porto, revelando uma total ausência de sentido de Estado.

Nem sempre uma boa técnica dá um bom dirigente e esse parece ser o caso desta diretora-geral que de dia para dia é confrontada com cada vez mais erros e contradições. É por isso que circulam vídeos a ridicularizá-la, o último dos quais é um onde ela aparece a entrar com um magote de gente dentro de um pequeno elevador e sugerindo que se voltem para a parece.

É cada vez mais óbvio que ocorreram erros de previsão, que a DGS confiou demais em conclusões pouco credíveis como a de que dificilmente o vírus era transmissível entre humanos, semanas depois do início da crise não há dia em que os dados divulgados pela DGS revelam erros crassos de aritmética, tornando-os pouco confiáveis.

O problema é que a senhora parece pensar que a comunicação serve para gerir a sua imagem e nem os membros do governo respeita. A palavra que mais usa nas conferências de imprensa é “complementar”, porque sempre que a ministra ou o secretário de Estado acabam de falar a senhor acha por bem pedir sempre a palavra para “complementar” o que foi dito. Ficamos com a impressão de que os governantes disseram o que lhes terão dito para dizer, mas esqueceram-se sempre de alguma coisa.

Ontem a conferência acabou com um incidente ridículo, a pobre senhora enganou-se num dado que deu a conhecer, relativo ao pessoal de saúde infetada. No final da conferência o secretário de Estado corrigiu com base numa informação que lhe chegou por SMS. A pobre senhor não se conseguiu conter e explicou que não tinha corrigido porque evita trazer o telefone para a conferência para evitar a contaminação. Enfim, se o secretário de Estado lhe passou à frente é porque usa telemóvel…

É evidente que o governo fez uma grande aposta na comunicação, o que se entende pois o sucesso de qualquer guerra depende muito da comunicação. Lamentavelmente ninguém explicou que numa guerra o objetivo não é gerir a imagem de quem fala.

sexta-feira, março 27, 2020

SILÊNCIO


Há críticas a fazer? Há.

Mas a hora, como diria o nosso estimado Cavaco Silva que parece que perdeu o pior, é de deixar trabalhar. Por maiores que sejam as dúvidas é a hora de deixar trabalhar quem o faz todos os dias e muito para além do que pode ser considerado normal. Por isso não há aqui qualquer crítica às pessoas que dando a cara ou trabalhando nos bastidores.

Estou em casa e não me passa pela cabeça criticar seja quem for que está a correr riscos e a dar o seu melhor para que eu e muitos outros estejamos com alguma tranquilidade a esperar que isto passe. Mais competentes ou menos competentes, devo-lhes pelo menos isto. E não tenciono ir para a janela prestar homenagens a médicos e enfermeiros, preferia não assistir a cenas como alguém protestar porque uma enfermeira usou o seu estatuto de cliente prioritária na fila do supermercado.

É assim, qualquer idiota diz que paga impostos para os outros ganharem enquanto enfermeiros, como se os ordenados dos enfermeiros, médicos ou qualquer outro funcionário fossem gorjetas e não a remuneração de trabalho prestado. Assim o nosso bom povo, tem uma elevada percentagem de idiotas e vemos isso nos dias que passam.

Mas se os idiotas fazem questão de não ficarem calados a verdade é que nos dias de hoje a regra é mesmo o silêncio, deixei de ouvir aviões e a cidade deixou de ser ruidosa, consigo ouvir os pássaros e desde os tempos em que ia para a aldeia da minha avó que não sentia tanto silêncio. Agora só falta ver a Via Láctea parta pensar que estou na Junqueira.

quinta-feira, março 12, 2020

|ESTÁ TUDO GROSSO?|


Quando o país mais precisava de um Presidente da República eis que Marcelo decide dar um exemplo, achou que se tinha cruzado com uma primo de uma sobrinha de um conhecido de um contaminado de Felgueira e impôs a si próprio uma quarentena, durante a qul lhe levam tudo a casa e quando sente saudades de dar ao badalo para o país o ouvir vai à varanda das traseiras onde, coincidência das coincidências, está uma jornalista à espreita.

O bom exemplo que Marcelo poderia ter dado desde há muito tempo era de higiene, pondo fim a essa treta populista do presidente dos afetos, que o leva a beijar tudo e todos, transformando a sua cara no maior jardim zoológico de bacilos vírus, fungos, bactérias e tudo o mais que se mede em microns.

Mas é para vir dizer que está vendo o que o governo faz, assegurar que vai pedir contas, visitar doentes ou fazer boletins clínicos como se tivesse tirado um curso de medicina e a especialidade em saúde pública enquanto esteve de quarentena, o melhor é voltar a dar o exemplo e voltar para quarentena, mas desta vez uma quarentena de quarenta dias, talvez o país regresse a alguma normalidade informativa.

E enquanto o presidente está de quarentena vamos assistindo ao espetáculo proporcionado pelas conferências de imprensa da ministra e da diretora-geral. Só é pena que lá não apareça sempre aquele senhor com cara de pau que finalmente percebi que era secretário de Estado da Saúde, bem como a colega Jamila, a senhora da JS que tanto poderia ter ido para adjunta e da Saúde como para a agricultura, porque quem não sabe de nada serve para tudo.

Ver a senhora diretora-geral dedicar a sua maior intervenção à defesa corporativa dos médicos do hospital de Santa Maria, cuja competência ou honorabilidade ninguém questionou foi deprimente. A verdade é que não há como explicar como é que duas pneumoniass com COVID-19 se “escaparam” quando basta espirrar e ter um primo italiano para ir logo fazer companhia ao Marcelo.

Por favor, metam ordem na casa, deixem-se de gestão da imagem e enfrentem o problema com seriedade e segurança, transmitindo confiança aos portugueses. Deixem-se de palhaçadas e façam um bom programa televisivo explicando a todos as medidas preventivas que devemos adotar.

quarta-feira, março 11, 2020

SOMOS VÍTIMAS DO VÍRUS DA PEQUENEZ


Um cidadão regressa do Japão onde esteve internado e tem à sua espera no aeroporto um secretário de Estado da Saúde e uma secretária de Estado das Comunidade. Encontra-se com a esposa, segue levando a bagagem e atrás deles vem a pequena comitiva governamental, até que chegam ao local combinado, onde cuidadosamente estavam as bandeirinhas para tirarem a fotografia.

Mas que raio de espetáculo foi este, o que foram fazer dois membros do governo ao aeroporto? Se fizeram alguma coisa não fizeram mais do que o seu dever, é para isso que têm chefe de gabinete, um enxame de assessores, motoristas, telefonistas, auxiliares, direções-gerais, institutos e muito dinheiro para que nos seus gabinetes haja muito mais conforto do que numa escola. Não se percebe que tenham decido cobrar o que fizeram perante todo o país!

Sejamos honestos, é ridículo ver membros do governo a aproveitarem-se destas situação para aparecerem em fotografia, com ar de quem salvou o homem e a quem todos devemos ficar agradecidos. Mas será que em plena crise o trabalho daquele secretário de Estado da saúde é ficar com cara de pau nas conferências de imprensa e fazer-se às fotografias?

Do outro lado da cidade, em Cascais o espetáculo foi outro. Um Presidente que decidiu bater o recorde mundial de beijinhos e selfies, que se aproveita da treta dos afetos para promover a sua imagem até ao ridículo decide ficar em quarentena e gastar testes só porque houve uma probabilidade muito remota de poder ter estado na mesma sala com algum jovem portador do vírus na fase assintomática.

Sejamos honestos, se todos os portugueses que verificassem esta situação estariam de quarentena a começar na ministra da Saúde que esteve numa reunião coma sua colega inglesa, bem como um colega meu que estava uma fila atrás no avião em que a ministra regressou de Bruxelas , eu próprio porque tomei café com esse colega, todos os que tiveram comigo e por aí adiante, começando por membros do governos, motoristas, familiares e ministros da ministra, etc. etc. Ainda bem que o Reino Unido saiu da UE, senão ficávamos sem governo....

Mas mesmo em quarentena o Presidente não resistiu ao vício da fama e de ser o centro das atenções, foi à varanda nas traseiras da casa e já lá estava uma jornalista para o entrevistar... Não teria sido melhor o Presidente da República usar o seu poder de comunicação e dar alguns conselhos aos portugueses, acabando com essa treta dos afetos e da quarentena? Não seria melhor se alguns governantes se preocupassem mais com o raio do vírus do que com a sua imagem?

segunda-feira, março 09, 2020

O BOM EXEMPLO DE MARCELO


Tanto quanto se sabe o Presidente da República não esteve em contacto com algum doente portador do coronavirus, da sua agenda fez parte um encontro com uma turma do ensino secundário, numa sala pequena, apinhada de gente. A própria Presidência da República esclareceu que o estudante de Felgueiras infetado com o coronavirus não era portador do vírus.

Marcelo decidiu dar o exemplo e ficou na sua casa de quarentena. Será que o exemplo de Marcelo é para seguir?

Vejamos a primeira parte do bom exemplo de Marcelo, num contexto em que se deve evitar o contacto a Presidência da República organiza eventos com salas apinhadas de gente. Apesar dos seus 70 anos Marcelo não prescinde da sua mania da beijoquice e só não foi para mais uma imensa sessão de beijocas, porque com a sua quarentena acabou por não ir à Procissão dos Passos.

Este comportamento é um bom exemplo do que um septuagenário não deve fazer. Vejamos, então, a segunda parte.

Marcelo não esteve em contacto com nenhum doente, esteve numa sala onde estava jovens de uma escola com milhares de alunos, um dos quais se veio a revelar portador do vírus e só por isto o Presidente da República decidiu ficar de quarentena e fazer análises.

Se todo o país seguisse este exemplo estaria de férias até passar a epidemia e teríamos de contratar uma boa parte dos laboratórios europeus para fazer tanta análise.

Enfim, seria bom que Marcelo desse bons exemplo de como evitar o contágio em vez de andar a fazer boletins clínicos e a dar exemplos destes.

sábado, março 07, 2020

DOENTES VIP


Tenho de confessar que já sento vontade de pedir autorização à ministra da Saúde para visitar um dos doentes com corona vírus que estão mesmo aqui ao meu lado, no Hospital Curry Cabral. A razão é óbvia, como há uma grande probabilidade de vir a ser contaminado pelos perdigotos mandado por um quáquer idiota aos berros só porque parei no sinal vermelho, é bem melhor que seja agora e resolvo logo o problema.

Se for contaminado agora sou tratado como doente VIP, tenho direito a quartinho individual, televisão e internet. Se precisar do apoio do enfermeiro é só tocar no botão e é mais do que certo que terei ração reforçada. Não me faltarão visitas, se calhar até tenho direito a secretariado para geria a agenda. Só não tiro uma selfie com o Presidente da República, pois com mais de 70 anos e um par de stents é um sério candidato a passar um mau bocado se ficar doente.

Com alguma sorte serei entrevistado logo que saia do hospital e até pode ser que tenha direito a lugar no programa da Cristina Ferreira ou, na pior das hipóteses, vou para comentador da CMTV. 

Se for contaminado daqui a um mês tenho de ir para a fila dos contaminados que aguardam guia de marcha e o mais certo é ir para uma tenda insuflada emprestada pela Cruz Vermelha, isso se não me mandarem para casa e depois vão lá meter os medicamentos e as refeições à porta, isso se os meus vizinhos não se juntarem e não me atirarem do sexto andar, ou mesmo queimado à porta porque assim ficam com a certeza de que não vou contaminar o cemitério do Alto de São João.

Só não vou num pulinho ali a Milão porque mesmo com tratamento VIP os stents já não ajudam muito pois se tenho menos idade do que o Marcelo a verdade é que tenho mais remendos nas canalizações do que o presidente e depois de já ter jogado à roleta russa com uma probabilidade de sobrevivência bem menor do que os doentes com coronavirús, o melhor é mesmo rezar para que pelo menos desta vez o vaso caia em cima da vizinha.

quinta-feira, março 05, 2020

A BATALHA PERDIDA


A reação ao risco de uma pandemia deve ser feita a pensar na doença e não na imagem dois responsáveis e a verdade é que até há poucas horas parece que há muita gente a ignorar o que pode vir aí e que está mais preocupada em obter ganhos na sua imagem. O caso mais ridículo foi protagonizado por uma ministra da Agricultura que mostrou não saber nada do setor e ter valores éticos muito originais.

Um exemplo desta estratégia de comunicação correu no Algarve. Depois de mais uma vez um governo ignorara a urgência de um novo hospital no Algarve, os responsáveis do ministério desdobraram-se em visitas e referências ao hospital universitário de Faro, uma unidade de saúde a rebentar pelas costuras. A secretária Adjunta e da Saúde Jamila Madeira, uma ex-líder do PS e estudou economia, foi de propósito ao Algarve fazer uma encenação, assegurando que tudo estava pronto para o coronavirus. No dia seguinte dois doentes de VRSA com suspeitas de serem portadores do vírus foram para a Lisboa.

Qualquer pessoa de bom senso sabe que esta é uma batalha perdida para qualquer governo, basta surgir uma centena de casos suspeitos para que se entre em pânico, um pânico que durante semanas parece ter sido promovido de forma mais ou menos irresponsável, isso depois de o problema ter sido ignorado, com a senhora da agricultura ver nele uma boa oportunidade para vender carne de suíno para a China.

Qualquer governo teria de preparar a resposta do sistema de saúde e pensar também na comunicação, mais pela gestão da opinião pública face a uma crise do que para dar ares de grande competência deste ou daquele representante do Estado. Perante uma situação desta seria mais inteligente o governo preparar-se para o pior do que para o melhor, pensando que a pandemia passaria ao lado e que tal se deveria às conferências de imprensa diárias, dadas em função das conveniências uma diretora-geral mandada para a frente ou pela ministra.

Foi um erro e o próprio Marcelo já percebeu o que pode vir aí e até agradece que seja o primeiro-ministro a chamar a si os afetos, beijinhos e selfies.