Independentemente das avaliações políticas ou partidárias em torno desta segunda Batalha das Laranjas que se trava em torno de Reguengos de Monsaraz há indícios claros que apontam para algumas conclusões ou dúvidas que importa esclarecer:
Algo correu mal em Reguengos
As mortes no lar de Reguengos de Monsaraz não serão apenas mais 18 mortes num lar, como parecia até a Ordem dos Médicos tomado posição, ainda que para António Costa e muitos militantes do PS tenha metido o bedelho onde não era chamado. Até ali era mais um lar, a crer pelas declarações do autarca todos teriam feito o que deviam fazer a começar por ele próprio.
Mas ainda antes de a OM ter lá ido meter o bedelho já algo de diferente tinha acontecido, pela primeira vez toda uma delegação governamental formada pelo secretário de Estado da Saúde, pelo secretário de Estado da Defesa na qualidade coordenado do combate à pandemia na região do Alentejo e a diretora-geral da Saúde. Nunca tinham visitado qualquer região e muito menos por causa de um lar, desta vez foram ao Alentejo e tranquilizaram o país, tudo estava a ser bem feito. Afinal não estava.
Há doentes cuja morte pode ter sido ter tido outras causas
O covid-19 tem as costas largas e basta uma análise positiva para que a causa de morte tenha sido essa doença. Mas há famílias a queixarem-se das condições do lar. Como as condições do lar eram de tal forma anormais que 80% dos utentes foram contaminados, muitos deles já depois de ter havido tempo para evitar a contaminação. Quando o autarca anunciou a retirada dos utentes já quase todos eram portadores do vírus. Enfim, a covid-19 tem as costas largas.
O lar não tinha condições
Não se tratava de um lar clandestino, era um lar de uma Santa Casa que não estava fazendo uma boa ação. Trata-se de uma atividade financiada com subsídios da Segurança Social e os montantes desses subsídios são determinados de forma contemplarem os custos decorrentes das exigências locais.
Pelo que vários entidades têm comentado há fortes indícios
de que o lar além de não ter condições poupava muito em custos de pessoal.
O inquérito da IGS é tardio
É estranho que depois de várias semanas e quando há muito que era óbvio que algo estava mal no plano médico naquele lar, só agora a ministra da Saúde se tenha decidido a mandar a IGS de saúde averiguar. Antes disso já tínhamos ouvido o secretário e Estado da Saúde declarar uma semana antes que não comentava Reguengos de Monsaraz por estar em investigação pelo MP.
Um inquérito do MP não impede um inquérito da IGS e vice-versa, mas esta não parece ser a prática habitual dos nossos governos, pelo que se estranha que assim seja, de forma tão tardia, depois de uma delegação governamental ter ido há muitas semanas ao Alentejo.
Pouca importa se esta ou aquela entidade pode ou não investigar um lar da Santa Casa, a verdade é que se trata de um problema de saúde que envolve atos médicos que também não são da competência da Segurança Social, pelo que não faz sentido opor a um relatório da OM um outro relatório da Segurança Social. O lógico é que logo que ocorreram problemas e havia indícios de que algo tinha corrido mal a IGS devia ter sido enviada. Agora são favas depois de almoço, serve para a comunicação social e pouco mais.
Conclusão:
Estão em causa 18 mortos.
Está em causa uma IPSS que por ter esse estatuto pode e deve
ser auditada pelo Estado. Neste caso importa saber se essa IPSS utilizou os
fundos que recebeu do Estado aos fins que eram destinados.
Seria bom que PS e PSD se deixasse de guerras partidárias
porque o que se passou em Reguengos de Monsaraz é demasiado sério para se
transforme numa batalha das laranjas ou mesmo numa tomatada. Tenham juízo porque
há regras que por não terem sido devidamente cumpridas podem ter ocorrido mortes.