sábado, agosto 29, 2020

VOTA NOUTRO … PRESIDENTE

Marcelo enfrentou ontem um dos maiores testes da sua vida e digo da sua vida intelectual pois mais do que o político foi o professor e comentador que foi confrontado por uma mulher que lhe perguntou aquilo que todos os pobres portugueses dizem em surdina, se alguém sem problemas consegue viver com 300 euros mensais.

Antes de mais é bom dizer que alguma esquerda queque considera este tipo de perguntas como sendo o estilo Chega, mas a verdade é que os mesmos que fazem estas perguntas aos políticos de agora sempre as fizeram e os que ficam incomodados com elas porque é o seu partido que está no governo, estão fazendo um grande favor ao Chega. Se qualquer desabafo de alguém que tem dificuldades é sinal do Chega, estamos muito mal, uma boa parte dos portugueses são pobres.

Este é um debate interessante que fica para outro dia, porque o aburguesamento dos militantes do PSD e do PS estão deixando a maioria do eleitorado a outros. Marcelo revelou precisamente essa incapacidade de responder a uma pergunta tantas vezes feita e que todos nós, os que se escaparam à pobreza deveriam fazer. Confesso que já fiz muitas vezes as contas, para perceber como vive um casal e um filho que tenha de viver com o ordenado mínimo.  

Marcelo está habituado a falar para ser ouvido, a opinar para que os outros saibam, a mandar recados e recadinhos, a usar o seu estatuto presidencial para distribuir raspanetes e conselhos a toda a gente, desde o primeiro-ministro ao sem abrigo. Como professor tem meio século de um estatuto em que era ele a fazer as perguntas, como comentador sempre contou com jornalistas a quem cabia fazerem as perguntas combinadas e sorrirem para dar ares de quem ouvia grande coisa.

Mas esse Marcelo foi incapaz de responder à pergunta para a qual qualquer político de um país com os nossos níveis de pobreza deve estar preparado e ter a resposta na ponta da língua. Mas Marcelo não foi apenas incapaz de responder, de uma penada mostrou duas das suas facetas, que a sua relação com a pobreza está muito marcada pela perspetiva caritativa dos mais ricos e que numa situação política se importa pouco com os princípios.

Responder a uma pergunta destas dizendo a uma cidadã que vá apelar às pessoas que votem noutro partido para o governo é uma resposta bem mais ao estilo Chega do que a pergunta-lhe que lhe foi feita.