Mais do que a economia é a democracia que está em crise, não
é a crise financeira que conduz a uma crise da democracia, é a crise desta que
conduziu à crise financeira. Não é a falta de competitividade n economia a
causa da crise económica, temos mais e melhores empresários do que políticos, é
a falta de competitividade e de qualidade da nossa classe política. E quando
digo políticos não me refiro apenas aos políticos encartados, refiro-me a todos
os que fazem política, há donos de televisões e magistrados do Ministério Público
que fazem mais política do que uma boa parte dos deputados do parlamento.
Ligamos as televisões e quem vemos a fazer comentário político?
Vemos tralha política e intelectual, ex-dirigentes partidários falhados,
assalariados dos banqueiros, afilhados do Balsemão e mais uma seita de inúteis
que dizem o que lhes é encomendado pelos Belmiros e outros merceeiros da praça.
Escapa-se um Miguel Sousa Tavares, um Pacheco Pereira, um Pedro Marques Lopes e
pouco mais.
Olhamos para Belém e vemos um provinciano que condenou o país
à sua dimensão intelectual, um político que esbanjou as ajudas europeias, alguém
sem a dimensão de um Mário Soares que fez do país o bom aluno graxista e sem
valores que hoje é. Alguém à volta do qual se formaram banqueiros gatunos, uma
classe de novos ricos que há décadas que parasitam a economia portuguesa.
Olhamos para o governo e vemos o governo mais incompetente e
ridículo que Portugal teve desde a implantação da República. Um governo cheiro
de equivalências a ministros e que governa graças ao timoneiro de Belém.
Olhamos para a oposição e o que vemos? Um líder do maior partido
da oposição que por estar convencido de que os portugueses não terão outra
solução senão votar nele, faz mais oposição ao seu antecessor do que ao
governo. Uma extrema esquerda armada em democratas e um partido comunista que
concluiu que não é o seu programa que tem o passo errado, é o resto do país e
mesmo do mundo.
No Tribunal de Contas temos um antigo administrador não executivo
de um banco que pertencia ao BPN, no Ministério Público brinca-se às fugas ao
segredo de justiça pondo-se em risco o modo de vida de milhares de portugueses que
estão em Angola, alguns dos quais convidados a abandonarem o país pelo governo.
A separação de poderes é uma ficção, os ministros dizem que falaram com os
magistrados e os magistrados transformaram as investigações e as fugas ao
segredo de justiça na principal arma política na democracia portuguesa.
Portugal está transformado naquilo a que em gastronomia se designa por roupa velha, estamos aproveitando as sobras de comida que já não prestava, dos restos do cavaquismo do tempo dos oásis e das inaugurações às dezenas antes das eleições ou dos aumentos de pensões para se conseguirem maiorias absolutas. Mesmo aqueles que parecem jovens políticos não passam de reproduções do passado.
Aquilo de que Portugal precisa não é de uma troika ou de uma
reforma do Estado desenhada pelo negociante de submarinos, precisa antes de uma
nova elite política, de magistrados respeitadores da democracia, de donos da
comunicação social com ética, de uma nova classe política, de políticos que
lutem, Portugal precisa de uma revolução, uma revolução dentro das instituições
da democracia, uma renovação dos seus dirigentes, uma revolução que nos alivie
da imensa tralha que por aí vai e asfixia o país.