Estou farto de crises financeiras cíclicas, de perder a cada
dez anos mais de metade do que se melhorou na década anterior, de ver gente a
defender soluções autoritárias como garantia de equilíbrio financeiro, de ver
elogiar provincianos autoritários como Salazar, Cavaco ou Gaspar, chega deste
ciclo interminável que em mais de um século tem trazido ditaduras e atraso ao
país.
Foi possível desmontar as mentiras e Salazar, de Cavaco e de
Gaspar, austeridade não implica ditadura, medias inconstitucionais, a acusar as
instituições de serem forças de obstrução, de tentar governar com medidas
inconstitucionais, de defender que a única forma de desenvolvimento implica a
pobreza dos que trabalham.
E nem foi preciso nenhum ministro das Finanças com cara de
pau, de um provinciano fichado num forte virado para o Tejo, de um netinho da
Dona Prazeres, mulher com os valores da serra, de um montanheiro complexado do
barrocal algarvio.
Agora dizem que são contra uma maioria absoluta, a que dizia
que era preciso suspender a democracia para fazer reformas aparece ao lado do
Rio com receio de uma maioria absoluta, o mesmo Rio que não esconde tiques
autoritários e que pertence ao partido que mais abusou dos poderes em maioria
absoluta receia uma maioria absoluta, os defensores do marxismo-leninismo, do
maoismo ou do trotskismo são contra a maioria absoluta.
Pois eu espero que continuemos em democracia, que as crises não
sirvam para justificar as tentações autoritárias ou para promover políticos
autoritários, sem crises financeiras que impeçam o enriquecimento do país e com
um sistema estável para que se acabe com políticos fracos e incompetentes que
costumam ter sucesso em ambientes de constante instabilidade política.