Desde os tempos em que Miguel Cadilhe informou o país de que
haviam 150.000 funcionários públicos a mais e Cavaco Silva criou listas de
disponíveis com vista ao seu despedimento que todos os males dos país são provocados
pelos funcionários públicos. De vez em quando andam distraídos, com ciganos,
africanos, gays, gagos e obstetras mas rapidamente voltam ao mesmo, o bombo da
festa é sempre o funcionário público.
Não há nada em Portugal que não desague no Estado e todos os
incidentes e crises, sejam financeiras ou da saúde, depressa alguém prova por
dois e dois que a responsabilidade é do Estado e não tarda um qualquer político
descobre logo que tudo se resolve com mais umas pancadas no bombo.
Ganham demasiado, a média salarial de médicos e de engenheiros
é maior do que a média se salários na fábrica de parafusos? Cortam-se nos vencimentos,
congelam-se aumentos e promoções. É preciso mais dinheiro para a Saúde? A solução
é óbvia, aumentam-se os horários de trabalho, exigem-se mais consultas por
hora, multiplicam-se os truques para aumentar a produtividade.
O modelo deu resultado, mas está sucedendo ao Estado o mesmo
que sucedeu ao burro que se habituou a viver sem comer. Descobre-se que o
vencimento de um professor não dá para pagar duas rendas de casa mais os
transportes para as deslocações, que os médicos estão cansados com tantas horas
e urgências, que os enfermeiros estão a ir-se embora, que em muitos serviços do
Estado a maioria dos funcionários estão à beira da reforma.
Depois de quase trinta anos de festa em que se entretiveram
a bater no bombo chega-se à conclusão que o bombo está à beira de rebentar e
sem bombo deixa de haver festa. Mais um par de anos deste oportunismo político,
deste processo de difamação dos funcionários públicos e iremos ver muita gente
pagar com língua de palmo o ter andando a encontrar falsos culpados e falsas
soluções.
Os serviços de urgências fecham porque faltam médicos
jovens, os pais manifestam-se nas escolas por falta de polícias ou de
funcionários auxiliares, os alunos estão sem aulas por falta de professores, os
emigrantes não se legalizam por falta de recursos humanos no SEF, é impossível
renovar o cartão do cidadão porque nos registo não há quem o faça. Um pouco por
todo o lado o Estado rebenta. Afinal o burro precisava mesmo de comer.