Das muitas entrevistas a cidadãos de Guimarães que se
cruzaram com os jornalistas que os questionaram sobre os acontecimentos
ocorridos no estádio da sua cidade a maioria não considerou como sendo racistas
os adeptos do seu clube que sugeriram que um ser humano que já tinha sido um
deles fosse colocado ao nível de gorilas. Pior ainda, consideraram que a reação
podia ser considerada como legitimada só porque o atleta se lembrou de festejar
o golo que marcou junto dos adeptos sofredores, a quem deveriam ser dado mimos
porque a sua equipa viu uma bola entrar na sua baliza.
Entre todos os cidadãos comuns de Guimarães que não
hesitaram em dizer o que sentiam perante as televisões poucos se manifestaram
contra o racismo e apenas uma senhora associou o sucedido com a infiltração da
extrema-direita nas claques de futebol. Toda a gente sabe que a extrema-direita
encontrou nas claques um pasto ideal para crescer, mas a generalidade dos presidentes
dos clubes fazem de conta que não percebem. Como durante muito tempo não
perceberam os comandos da PSP ou mesmo os dirigentes sindicais, que parecem
confortáveis vendo cada vez mais sindicatos a trilharem pelo mesmo caminho.
E como é que personalidades como Sousa Tavares tratam
políticos oportunistas que para subirem na vida são o que for necessário e
surfando na onda da extrema-direita optaram por ser racistas? Dando-lhes credibilidade
cedendo-lhes palco em programa de prime time como se tivessem na sua frente uma
grande personalidade mundial. Do alto da sua vaidade sentiram-se grandes
democratas do Porto “desfazendo” um benfiquista racista, desta forma
minimizaram a questão do racismo a mais um incidente Benfica-Porto ou
norte-sul.
É óbvio que o Chega do oportunista vai crescer nas eleições
mas isso não sucede porque de um dia para o outro passámos a ser racistas, a
deixar de gostar de ciganos ou mesmo a ser imbecis. No bom povo português há de
tudo e à medida que a imbecilidade, a xenofobia, o racismo e outras coisas vão
perdendo a vergonha o Chega vai crescendo. Afinal, temos tanta extrema-direita
como o resto da Europa.
Vivemos num país onde dizemos que não somos racismo mas empaturramos
a caixa do WhatsApp dos amigos com piadas racistas, defendemos a doutrina social
da igreja e somos democratas exemplares mas há noite cultivamos a imagem do
Salazar e dizemos que o Tarrafal não passou de um pequeno beliscão. Somos todos
amigos dos africanos mas provavelmente ainda guardamos as fotos de cabeças de
africanos espetadas em paus ou mesmo alguma orelha guardada numa caixinha,
recordações das primeira campanha em Angola.