terça-feira, fevereiro 18, 2020

O BOM POVO PORTUGUÊS


Das muitas entrevistas a cidadãos de Guimarães que se cruzaram com os jornalistas que os questionaram sobre os acontecimentos ocorridos no estádio da sua cidade a maioria não considerou como sendo racistas os adeptos do seu clube que sugeriram que um ser humano que já tinha sido um deles fosse colocado ao nível de gorilas. Pior ainda, consideraram que a reação podia ser considerada como legitimada só porque o atleta se lembrou de festejar o golo que marcou junto dos adeptos sofredores, a quem deveriam ser dado mimos porque a sua equipa viu uma bola entrar na sua baliza.

Entre todos os cidadãos comuns de Guimarães que não hesitaram em dizer o que sentiam perante as televisões poucos se manifestaram contra o racismo e apenas uma senhora associou o sucedido com a infiltração da extrema-direita nas claques de futebol. Toda a gente sabe que a extrema-direita encontrou nas claques um pasto ideal para crescer, mas a generalidade dos presidentes dos clubes fazem de conta que não percebem. Como durante muito tempo não perceberam os comandos da PSP ou mesmo os dirigentes sindicais, que parecem confortáveis vendo cada vez mais sindicatos a trilharem pelo mesmo caminho.

E como é que personalidades como Sousa Tavares tratam políticos oportunistas que para subirem na vida são o que for necessário e surfando na onda da extrema-direita optaram por ser racistas? Dando-lhes credibilidade cedendo-lhes palco em programa de prime time como se tivessem na sua frente uma grande personalidade mundial. Do alto da sua vaidade sentiram-se grandes democratas do Porto “desfazendo” um benfiquista racista, desta forma minimizaram a questão do racismo a mais um incidente Benfica-Porto ou norte-sul.

É óbvio que o Chega do oportunista vai crescer nas eleições mas isso não sucede porque de um dia para o outro passámos a ser racistas, a deixar de gostar de ciganos ou mesmo a ser imbecis. No bom povo português há de tudo e à medida que a imbecilidade, a xenofobia, o racismo e outras coisas vão perdendo a vergonha o Chega vai crescendo. Afinal, temos tanta extrema-direita como o resto da Europa.

Vivemos num país onde dizemos que não somos racismo mas empaturramos a caixa do WhatsApp dos amigos com piadas racistas, defendemos a doutrina social da igreja e somos democratas exemplares mas há noite cultivamos a imagem do Salazar e dizemos que o Tarrafal não passou de um pequeno beliscão. Somos todos amigos dos africanos mas provavelmente ainda guardamos as fotos de cabeças de africanos espetadas em paus ou mesmo alguma orelha guardada numa caixinha, recordações das primeira campanha em Angola.