Há uma velha tradição dos aparelhos partidários do PSD e do
PS que tem passado incólume e sem grandes críticas, que é a confusão entre
Estado e partidos quando estes estão no poder. Confunde-se o trabalho dos
serviços do Estado e dos seus quadros como obra dos partidos. Tudo o que é
feito no Estado resultou da ação dos Governos, tudo o que o Estado faz serve de
propaganda dos partidos.
O caso mais recente sucedeu com um cartaz do PS onde mostrava
as quantidades de máscaras e de ventiladores distribuídos pelas diversas
regiões do país, como se isso fosse mais um milagre que só foi possível graças
ao governo. Aliás, as sucessivas idas da Jamila Madeira onde mais parecia uma
transitária ou um despachante oficial, dando entrevistas em frente de aviões de
onde eram descarregados caixotes, dando ares que se não fosse ela nada tinha
chegado.
É pena que os partidos insistam nestas estratégias pacóvias,
não entendendo que os eleitores já não são assim tão parvos. Neste caso as
coisas correram muito mal pois ao mostrarem a “grandiosa obra” para captar
simpatias a norte do país, acabaram por provocar revolta e indignação em todo o
Algarve, precisamente uma região que deu uma preciosa ajuda eleitoral a António
Costa.
O Algarve tem sido preterido por sucessivos governos e é
atualmente uma das regiões, senão mesmo a região do país mais desprezada pelos
ministros da Saúde e onde o SNS tem uma das piores imagens. Ainda recentemente
o governo ignorou a necessidade de um novo hospital da região, não admirando
que mal se avizinhava a pandemia a incansável Jamila Madeira, correu para o
Algarve para tranquilizar os algarvios, assegurando que o hospital distrital do
Algarve estava pronto para uma boa resposta.
Pois, o problema é que o Algarve tem pouco mais de duas
dezenas de ventiladores, uma pena UCI em Faro onde já fui residente durante um
mês), uma ainda mais pequena em Portimão e mais uma dúzia ou pouco mais de
ventiladores em unidades de saúde privada. Assim, quando à data da manobra propagandística
oportunista o Algarve tinha direito a uma bolinha pequena onde não cabia nenhum
ventilador deu-se o escândalo.
Talvez seja tempo de os militantes dos partidos deixarem de pensar
que o Estado é uma extensão obediente dos aparelhos onde quem manda são os seus
caciques locais, distritais ou nacionais.