Neste turbilhão de comunicação em que vivemos, onde se
misturam as comunicações, comícios e homilias diárias do meio-dia com as
notícias com que somos quase agredidos minuto a minuto, com os jornalistas em
buscas de mortos por todos os lados, uma das coisas que mais impressiona é ver
como a sociedade olha confortavelmente para a morte dos mais idosos.
Quase todos os dias vemos altos responsáveis passar
rapidamente pró cima de mortes sempre com o mesmo argumento, tinha mais de 70
anos e apresentava várias comorbilidades, disto isto o assunto fica arrumado, a
culpa não foi do sistema de saúde e quase que nem foi do vírus, foi da idade e
das comorbilidades, como se estivessem dizendo que se não morria hoje iria
morrer um dia destes.
Uma boa parte dos nossos professores, cientistas, médicos e
de muitos outros profissionais de excelência têm mais de 60 anos e é natural
que muitos deles tenham comorbilidades porque há um preço a pagar pelo aumento
da esperança de vida, esta aumenta porque a ciência consegue não só curar mas
manter vivos muitos que no passado morreria, As angioplastias evitam enfartes, os
medicamentos controlam a pressão arterial, a insulina mantém vivos os
diabéticos e muitas doenças mortais como a SIDA e muitas formas de cancro são
agora doenças crónicas.
É natural que muitas pessoas tenham comorbilidades, o
coronavirus é bem mais mortal na Europa, na Ásia e na América do Norte
precisamente porque nestes países a esperança de vida é muito alta. É natural
que em países onde a esperança de vida se situa abaixo dos 60 anos a letalidade
do coronavirus seja mais baixa.
Ainda bem que se vive mais e é lamentável ver quase
diariamente altos responsáveis políticos às mortes de idosos de uma forma que a
desvaloriza de uma forma subliminar, todos os dias vemos desvalorizar a morte
daqueles que nos construirão o que somos e temos com um “era velho e tinha
várias comorbilidades”,