segunda-feira, abril 20, 2020

NÃO SE PERDEU GRANDE COISA


Neste turbilhão de comunicação em que vivemos, onde se misturam as comunicações, comícios e homilias diárias do meio-dia com as notícias com que somos quase agredidos minuto a minuto, com os jornalistas em buscas de mortos por todos os lados, uma das coisas que mais impressiona é ver como a sociedade olha confortavelmente para a morte dos mais idosos.

Quase todos os dias vemos altos responsáveis passar rapidamente pró cima de mortes sempre com o mesmo argumento, tinha mais de 70 anos e apresentava várias comorbilidades, disto isto o assunto fica arrumado, a culpa não foi do sistema de saúde e quase que nem foi do vírus, foi da idade e das comorbilidades, como se estivessem dizendo que se não morria hoje iria morrer um dia destes.

Uma boa parte dos nossos professores, cientistas, médicos e de muitos outros profissionais de excelência têm mais de 60 anos e é natural que muitos deles tenham comorbilidades porque há um preço a pagar pelo aumento da esperança de vida, esta aumenta porque a ciência consegue não só curar mas manter vivos muitos que no passado morreria, As angioplastias evitam enfartes, os medicamentos controlam a pressão arterial, a insulina mantém vivos os diabéticos e muitas doenças mortais como a SIDA e muitas formas de cancro são agora doenças crónicas.

É natural que muitas pessoas tenham comorbilidades, o coronavirus é bem mais mortal na Europa, na Ásia e na América do Norte precisamente porque nestes países a esperança de vida é muito alta. É natural que em países onde a esperança de vida se situa abaixo dos 60 anos a letalidade do coronavirus seja mais baixa.

Ainda bem que se vive mais e é lamentável ver quase diariamente altos responsáveis políticos às mortes de idosos de uma forma que a desvaloriza de uma forma subliminar, todos os dias vemos desvalorizar a morte daqueles que nos construirão o que somos e temos com um “era velho e tinha várias comorbilidades”,