quarta-feira, abril 08, 2020

MORRER DO VÍRUS OU MORRER DE FOME


A economia mundial não suporta seis meses de quase paralisação, pior do que isso, suporta mas com um elevado custo de vidas por causa da fome e da multiplicação de outras doenças mais graves do que a covid-19 em consequência da falência dos sistemas de saúde por falta de recursos financeiros.

Mesmo que esta pandemia seja controlada à escala mundial, deixando de haver receio de uma segunda vaga, só a paralisação de uma parte significativa da atividade económica à escala mundial vai deixar um rasto de fome e de miséria que não se ficará pelos países do costume. A quebra da procura externa dos países desenvolvidos, a baixa acentuada dos preços das principais matérias-primas e a redução da atividade turísticas vai deixar muitas comunidades sem quaisquer recursos.

Se considerarmos a morte provocada pela fome e subnutrição e pela falta de recursos médicos nos países mais pobres e menos desenvolvidos, não é difícil de se perceber, que sem contabilizações mórbidas, o número de mortos em consequência do impacto económico da pandemia pode ser muitas vezes superior aos provocados diretamente pelo vírus.

Mesmo em Portugal, que está longe de ser um dos países mais pobres do mundo, o fenómeno da fome não é raro. É por isso que em todos os concelhos há escolas com as cantinas a funcionar, para fornecer as refeições aos alunos mais carenciados. E se recuarmos no tempo, lembrar-nos-emos do que sucedeu no Vale do Ave ou na península de Setúbal, quando essas regiões foram atingidas pelo desemprego, com níveis muito inferiores à vaga gigantesca a que estamos a assistir.

Desta vez nem nos países mais ricos há escapatória, a capacidade de ajudar é reduzida e quem não tem recursos nem sequer vale a pena ir em busca de trabalho porque não há. Não há biscates, não há empregos e não há emigração, não há nada, nem sequer ajuda das ONG, não há nada ou quase nada, resta a fome. Não tardará muito para que esta passe a ser a principal preocupação do e dos governos.

Os governos vão estar confrontados com uma escolha, a de escolher entre deixar alguns morrer de fome ou optar por deixar outros morrer à fome.