A economia mundial não suporta seis meses de quase paralisação,
pior do que isso, suporta mas com um elevado custo de vidas por causa da fome e
da multiplicação de outras doenças mais graves do que a covid-19 em
consequência da falência dos sistemas de saúde por falta de recursos
financeiros.
Mesmo que esta pandemia seja controlada à escala mundial,
deixando de haver receio de uma segunda vaga, só a paralisação de uma parte
significativa da atividade económica à escala mundial vai deixar um rasto de
fome e de miséria que não se ficará pelos países do costume. A quebra da
procura externa dos países desenvolvidos, a baixa acentuada dos preços das
principais matérias-primas e a redução da atividade turísticas vai deixar muitas
comunidades sem quaisquer recursos.
Se considerarmos a morte provocada pela fome e subnutrição e
pela falta de recursos médicos nos países mais pobres e menos desenvolvidos,
não é difícil de se perceber, que sem contabilizações mórbidas, o número de
mortos em consequência do impacto económico da pandemia pode ser muitas vezes
superior aos provocados diretamente pelo vírus.
Mesmo em Portugal, que está longe de ser um dos países mais
pobres do mundo, o fenómeno da fome não é raro. É por isso que em todos os
concelhos há escolas com as cantinas a funcionar, para fornecer as refeições
aos alunos mais carenciados. E se recuarmos no tempo, lembrar-nos-emos do que
sucedeu no Vale do Ave ou na península de Setúbal, quando essas regiões foram
atingidas pelo desemprego, com níveis muito inferiores à vaga gigantesca a que
estamos a assistir.
Desta vez nem nos países mais ricos há escapatória, a
capacidade de ajudar é reduzida e quem não tem recursos nem sequer vale a pena
ir em busca de trabalho porque não há. Não há biscates, não há empregos e não
há emigração, não há nada, nem sequer ajuda das ONG, não há nada ou quase nada,
resta a fome. Não tardará muito para que esta passe a ser a principal preocupação
do e dos governos.
Os governos vão estar confrontados com uma escolha, a de
escolher entre deixar alguns morrer de fome ou optar por deixar outros morrer à
fome.