Neste dia mundial do AVC apetece-me pedir a todos que não
tenham um AVC se fazem favor, não o faço porque tenha passado por essa
experiência, mas por ter convivido muito de perto e em circunstâncias muito
especiais com muitas pessoas que sofreram um AVC ou que estavam em condições
físicas próximas ou mais graves do que aquelas que normalmente resultam dos AVC
que não conduzem à morte.
Vi grande vitórias como conseguir dar um passo, subir um
degrau, subir sozinho para uma cadeira de rodas, vi muito sofrimento humano e
muita dedicação por parte de fisioterapeutas, enfermeiros e médicos. Era como
se estivesse num centro olímpico de alta performance, com sessões de exercícios
de segunda a sábado, sem horas para visitas, sem intervalos e sem descanso.
Quase isolados da sociedade, vivendo cada um com as suas limitações.
Ficamos a saber que um AVC é muito mais do que as
consequências físicas, as limitações com que cada um fica. É um grande murro no
estômago de muita gente que tinha uma vida saudável e socialmente intensa, que
de um dia para o outro perde a mobilidade, a voz, a capacidade de deglutir e,
não raras vezes, é-se abandonado pelo ou pela parceira.
Vi histórias de luta incríveis, vi jovens em cadeira de
rodas, mães com duas crianças de colo, praticantes de desporto a voltar a aprender
a andar, jovens e idosos que não percebiam o que lhes tinha sucedido. Conheci
vidas que acabaram no isolamento, no desemprego, por vezes no abandono. Tudo
isto em doentes que tinham tido um AVC há relativamente pouco tempo, que
começavam uma nova vida, por vezes bem diferente daquela que alguma vez
imaginaram.
Sem ter sofrido da doença junto a minha solidariedade e preocupação
daqueles que comemoram este dia mundial do AVC. Até porque enquanto me recordei
dos meus amigos de São Brás de Alportel trinta portugueses tiveram uma AVC e
deverão estar ainda a aguardar pela chegada da ambulância. Muitos deles terão a
sorte de engrossar as filas de espera dos centros de reabilitação.