Andam por aí algumas virgens armadas em debutantes neste
baile em que está transformado o debate político sugerindo que este OE é
eleitoralista. Claro que é eleitoralista, todos os oE são elaborados a pensar
em eleições e desde os tempos de Salazar e Marcelo que, felizmente, os
orçamentos são eleitoralistas. Há quem prefira governos que não têm de se
preocupar com a realização de eleições, mas ainda bem que esses ainda não
mandam e o governo de António Costa enfrenta eleições.
Mas dizer que em Portugal um OE que prevê um défice de 0,2%
não só dá vontade de rir, como são os críticos do governo que lhe estão a dar o
mais poderoso dos argumentos eleitoralistas. Se um OE com aquele défice
consegue margem para ter tantas medidas acusadas de eleitoralismo, então é porque
o governo é mesmo bom. Dar aumentos de pensões, de vencimentos, de
investimentos na saúde, de redução do custo da energia e ao mesmo tempo ter um
OE é algo de muito bom, na história de Portugal deve ser considerado um
milagre, desde os tempos em que acabou o ouro do Brasil que não se via nada
semelhante, nem no tempo do Salazar!
Mas seria bon que estes paspalhos se lembrassem da última
vez que elogiaram um governo e um orçamento elaborado a pensar em eleições, que
era muita generosidade o reembolso da sobretaxa, que um défice de 3% punha a
Maria Luís ao lado do Salazar no pódium dos magos das finanças. Nesse tempo
cortar salários, promover despedimentos e cortar pensões eram um bom motivo
para votar num governo da extrema-direita chique.
Nesse tempo essa extrema-direita chique, que agora está
acoitada no Observador, não reparou que a antecipação das receitas fiscais de 2016
foi o truque usado para cumprir o défice, não sabiam que o bingo do reembolso
da sobretaxa era batota eleitoral com cartas marcadas. Mas eles sabiam tão bem
o que tinham montado para 2016, ano em que contavam governar e pedir um segundo
resgate para poderem continuar a governar de acordo com a agenda da
extrema-direita.
Quando Passos Coelho anunciou o diabo e toda a
extrema-direita estava à espera que o governo caíssem sob o peso das contas
públicas não falaram em OE eleitoralista, nem o OE de 2016, nem o de 2017. Agora
sim, já deram pelo eleitoralismo, têm toda a razão, há um eleitoralismo bom e
um eleitoralismo digno de velhacos.