Desde que consta que a extrema-direita se infiltrou nas
forças de segurança que há quem queira transformar as polícias em modelos de
virtudes, sendo uma manifestação antinacional a mais pequena crítica à atuação
das forças policiais. Se um ministro questiona a colocação se fotos nas redes
sociais tiradas por agentes policiais em desrespeito dos direitos de um qualquer
detido, como sucedeu recentemente, insinua-se que o ministro está do lado dos
bandidos, em vez de estar do lado dos bons.
Esta separação entre os bons, os que combatem o crime, e os
maus os que cometem o crime, está a ganhar uma nova dimensão, nos bons estão
todos os polícias independentemente dos métodos e todos os que de forma
militante e incondicional os apoiam, do lado dos maus estão todos os criminosos
mais os que ousem questionar se um criminosos perde acesso a qualquer tipo de
direitos, pouco importando se são direitos humanos ou constitucionais.
Macis grave ainda, quem critique as polícias ou proteste contra
os seus abusos perde o direito à segurança porque não pode pedir ajuda aos
mesmos polícias que criticou, como se as polícias fossem associações sem fins lucrativos
financiadas por cidadãos bons e que apoiam incondicionalmente aquilo que eles
consideram estar do lado dos bons. Quem for bom tem direito aos serviços
prestados pelas polícias, quem estiver do lado dos maus perde esse e muitos
mais direitos.
Segundo esta lógica quem ouse criticar o SNS deverá ser
proibido de entrar num centro de saúde ou de ser consultado numa urgência, em
caso de acidente grave terá de pedir uma ambulância privada e seguir para um
hospital privado. Quem criticar a competência da corporação de bombeiros da sua
localidade já sabe, em caso de incêndio esqueça o telefone e agarre-se ao
balde.
O país está a ficar idiota e o mais grave é que são muitos
os poucos que se batem contra esta idiotice coletiva que está transformando
maus políticas, maus juízes, maus políticos em modelos de virtudes.