terça-feira, novembro 11, 2003

Uma Taxa Parabólica

Há muitos, muitos anos atrás, ainda no tempo do ruralismo salazarista havia uma personagem na sociedade portuguesa que era o fiscal dos isqueiros, mais conhecido por fiscal dos tabacos. Nesse tempo o que se usava eram os saudosos fósforos da fosforeira nacional, que estavam para a farinha 33 um pouco como agora os isqueiros bic estão para as papas nestum.

Ter isqueiro era coisa fina e obrigava ao pagamento de taxa, e lá andava o coitado do fiscal dos tabacos à coca de quem fazia o barulho típico de riscar a pedra; a taxa foi sendo esquecida e os fiscais também e a proibição continuou, até que vieram os isqueiros de cordão, esses então ainda mais perigosos, porque se dizia que serviam para produzir bombas.

Bem, os isqueiros foram esquecidos mas a televisão, os cães, os gatos e a tropa lá foram entretendo os portugueses com a história da taxa. A da tropa era mesmo importante (quem não a tivesse pago não podia ir a Badajoz comprar caramelos) mesmo quando já ninguém lhes dava importância, porque nas escolas de direito estudantes e professores ocupavam horas com a importante discussão da diferença entre taxas e impostos.
Então não é que, quando já nos tínhamos livrado das taxas, o artigo 21.º do projecto de lei do orçamento para 2004 autoriza a "legislar, alterando o artigo 19.º da Lei n.º 42/98, de 6 de Agosto, no sentido de ampliar as taxas que os Municípios podem cobrar", prevendo, entre outras, a que certamente será conhecida pela taxa da parabólica. Portanto, se estão pensando colocar uma parabólica no quintal encontrem um cantinho longe das vistas do fiscal das parabólicas.

Gostaria de saber de quem é a cabecinha perversa que inventou esta taxa; por este andar até os fatos de banho vão pagar taxa para que passemos todos a andar de tanga.