sexta-feira, maio 05, 2023

ESMIUÇAR A DECLARAÇÃO DO PR


Vale a pena reler a comunicação de Marcelo Rebelo de Sousa, foi uma declaração que não só marca o seu mandato presidencial, como representa um ponto de mudança quase drástica não só na sua forma de relacionamento com António Costa, como inaugura uma nova fase do seu mandato presidencial. É uma declaração de que se vai falar e comentar durante muito tempo e que vai estar presente cada vez que tomar qualquer intervenção, até ao fim do seu mandato.

Marcelo Rebelo de Sousa desmontou o argumento usado pelo governo em torno dos resultados económicos:

“Eles [portugueses] esperam e precisam de mais e melhor”

Pôs em causa a competência e, pior do que isso, a “confiabilidade, credibilidade, respeitabilidade e respeitabilidade do governo”.

“E isso exige capacidade, confiabilidade, credibilidade, respeitabilidade, autoridade.
E a autoridade, para existir, ser confiável, ser credível, ser respeitada, tem de ser responsável.”

Arrasa o ministro das Infraestruturas descredibilizando-o enquanto político e governante:

“Como pode esse Ministro não ser responsável por situações rocambolescas, muito bizarras, inadmissíveis ou deploráveis — as palavras não são minhas ...”

Diz de uma forma clara que que foi feito um pedido de intervenção do SIS, entrando em claro conflito com as declarações feitas a este propósito por António Costa, o que é de ums extrema gravidade política:

“levando a apelar aos serviços mais sensíveis de proteção da segurança nacional, que, aliás, por definição, estão ao serviço do Estado e não de Governos?”


Associa as decisões de Costa ao crescimento da extrema-direita:

“A responsabilidade política e administrativa é essencial para que os Portugueses acreditem naquelas e naqueles que governam.”

Descredibiliza António Costa enquanto primeiro-ministro:

“Mas sobre uma realidade, a meu ver, muitíssimo mais importante — a responsabilidade, a confiabilidade, a credibilidade, a autoridade do Ministro, do Governo e do Estado.”

Não esconde a rotura com António Costa e mesmo a “ofensa” que a sua decisão parece ter significado para si:

“Foi pena. Não por razões pessoais ou de disputa entre cargos que a Constituição distingue muito bem entre si, em termos de peso institucional, absoluto e relativo.”

Aponta de forma clara os domínios em que o governo terá fahado:

“Os preços dos bens alimentares. O funcionamento das escolas. A rapidez na justiça. O preço da aquisição da habitação.”


Não só assume a rotura, como não esconde que se sente enganado em relação ao apoio dado ao governo até aqui:

“Terei de estar ainda mais atento à questão da responsabilidade política e administrativa dos que mandam.
Porque até agora eu julgava que, sobre essa matéria, existia, com mais ou menos distância temporal, acordo no essencial.
Viu-se que não.”

Diz claramente que o que vai fazer nos próximos dois anos será diferente do que tem feito até aqui:

“Para esse efeito importa ir, ao longo destes mais de dois anos, sinalizando, de modo mais intenso, tudo aquilo que possa afastar os Portugueses dos poderes públicos.”


Assume claramente que há um ‘fusível’ que pode estourar e ao usar este termo assue que pode ocorrer um corte de corrente, afasta-se do governo e faz um claro apelo ao povo e à sua sabedoria, isto é à sua capacidade de avaliar e votar em conformidade:

“Para que as duas conclusões retiradas sejam passiveis de concretização, espero poder contar com a sensatez, o sentido de Estado e o patriotismo de todos e, claro está, como sempre, mas sempre com a experiência, a prudência e a sabedoria do Povo português.”


A rotura é óbvia, como é óbvio que só as incertezas das sondagens permitiram a Costa partir para o confronto, da mesma forma que Marcelo nada fará para ajudar a melhorar a imagem do governo, postura que no passo foi uma das principais razões para o sucesso aparente de António Costa.

Esta foi a declaração mais dura e objetiva que ouvimos de um Presidente da República nos últimos 50 anos e face à imagem que o Presidente da República tem junto dos eleitores, não é difícil de adivinhar o impacto que esta mudança e estas declarações terão na imagem do governo, do primeiro-ministro e dos ministros.

Há alguns dias António Costa declarou que se tivesse sabido das declarações do ex-secretário de Estado das Infraestruturas a propósito da viagem de regresso do Presidente da República, aquando da visita a Moçambique, uma declaração extraordinária já que em momento algum António Costa foi lesto a demitir um dos seus, por mais absurda que fossem as circunstâncias.

O problema é que as declarações do então secretário de Estado ainda ressoam na cabeça de António Costa e de todos os dirigentes do PS: "É o nosso maior aliado, mas pode tornar-se no nosso maior pesadelo", isto é, vão comecar as noites mal passadas de António Costa. O secretário de Estado destravado tinha muita razão e isso viu-se no silêncio do PS ou nos disparates dos poucos comentadores ligados ao PS que apareceram ontem na televisão, os que não chegaram a receber a ordem para ficar calados, já que outros anularam os compromissos respeitando diretivas que receberam para se manterem em silêncio.

Compreende-se o silêncio que se fez e certamente teremos um fim-de-semana bem tranquilo do que o último. Um silêncio que será ainda mais ensurdecedor do que a conferência de imprensa desastrada protagonizada pelo ainda ministro das Infraestruturas.

quinta-feira, maio 04, 2023

O PR FECHOU O GUARDA-CHUVA



Até aqui a estratégia do Presidente da República foi uma preciosa ajuda ao André Ventura, ao ser o guarda-chuva permanente do Governo acabou por “abafar” um PSD incapaz de o criticar por ser um dos seus, tornando o CHEGA num depositário das intenções de voto dos que não se reviam no governo.

António Costa tirou muito proveito deste modelo de concubinato em que Marcelo Rebelo de Sousa se enredou, como se o apoio que lhe era dado pelo Presidente da República anulasse a oposição. Percebendo que mesmo perdendo votos podia permanecer no governo depois das próximas eleições, António Costa tudo tem feito para polarizar a oposição ao governo no CHEGA.

A estratégia é perversa, vemos um primeiro-ministro de esquerda a tudo fazer para promover o CHEGA, quase tratando o André Ventura como líder da oposição, porque o crescimento da extrema-direita acaba por servir a sua estratégia política. Por um lado aponta o CHEGA como a verdadeira oposição ao poder e, por outro lado, elimina-se o líder do PSD encostando-o ao CHEGA. Até se fica com a sensação de que mais do que as intenções de votos no PS, as intenções de voto que mais chama a atenção de muito boa gente quando saem sondagens é a relação de votos entre o PSD e o CHEGA.

Esta estratégia é ainda mais óbvia na candidatura óbvia de Augusto Santos Silva, que parece querer fazer currículo político como uma espécie de herói da luta parlamentar contra o André Ventura. Ele faz currículo à esquerda e o André Ventura assume o protagonismo que lhe é dado. A consequência é óbvia, a atividade parlamentar durante este mandato é marcada pelas disputas entre Augusto Santos Silva e André Ventura, um coloca-se em posição para se candidatar a PR e o André Ventura ganha com esta bipolarização inédita ente PS e CHEGA.

Esta rotura entre o Presidente da República e o governo é saudável para a democracia e ao fim de anos no desempenho no cargo pela primeira vez vimos que Marcel, afinal, é mesmo Presidente da República, já que até aqui parece ter sido uma espécie de ajudante de campo de António Costa.


O regime democrático português não é presidencialista, mas também não é uma espécie de monarquia eleita, em que o monarca não passa de uma figura decorativa do primeiro-ministro, parecendo ter menos poderes do que o Rei Carlos III ou o presidente da República Federal da Alemanha.

Mais do que uma crise política estamos perante a reposição da normalidade na. Democracia portuguesa. Marcelo mais não faz do que assumir uma posição que já vimos em Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio e, concorde-se ou não, o crime de que agora acusam Marcelo rebelo de Sousa foi o mesmo que Jorge Sampaio exigiu a demissão de Armando Vara Vara.

terça-feira, maio 02, 2023

OFERECEM-SE BURROS PARA O GOVERNO




Há muito tempo que não se via tanta trapalhada política neste país, ao ponto de quase se poder dizer “volta Santana Lopes, estás perdoado!”.

Já vi um ajudante de padeiro como assessor de um secretário de Estado.

Já vi mandarem o SIS buscar um portátil como se tivesse a chave da Bomba H.

Já vi meio governo a mentir.

Já vi um governo a usar a administrador da TAP para transformar uma comissão parlamentar numa pantominice.

Já vi um ministro das Finanças a querer “desenrascar-se” sugerir à CEO que se imolasse, pedindo a demissão, para dessa forma limpar as asneiras governamentais.

Já vi um despedimento pela televisão de uma CEO de que diziam ser competentíssima e ter resolvido os problemas da TAP, em direto pela televisão e sem que esta alguma vez tivesse sido ouvida e sem qualquer processo disciplinar.

Olho para este governo e tenho dificuldades em encontrar um ministro que incluiria num governo competente, olho para o grupo parlamentar do partido do governo e o cenário não é muito melhor e só espero que o primeiro-ministro não se lembre de levar o deputado Carlos Pereira para o Governo.

Ligo a televisão e dou comigo a pensar que um dia destes o governo manda os para-quedistas assaltar a casa de alguém, talvez nalgum tanque Leopard 2 que ainda consiga arranacra o motor, só porque alguém levou para casa o caniche do António Costa.

No tempo do Santana colocámos aqui uma oferta que dizia “temos burros disponíveis para uma eventual remodelação”. Estão reunidas todas as condições para voltar a fazer tal oferta, pela forma como o governo escolheu, por exemplo, a secretária de Estado das Finanças ou o rapazola do pavilhão virtual de Caminha, estou certo de que é uma oferta que o primeiro-ministro devia considerar.


E como o primeiro-ministro aprecia tanto escolher pessoal das autarquias do interior, até lhe sugerimos um burro de Miranda. Entre zurrar e dizer asneiras ou mentiras, estou certo que com um burro a zurrar nunca incomodará o Presidente da República.