sexta-feira, setembro 30, 2011

A institucionalização da velhacaria

Quando um ministro vai à Universidade de Verão do PSD e incita os seus jovens camaradas a estudar porque assim ganharão bom dinheiro e semanas depois suspende a atribuição de prémios quando os premiados já tinham sido convocados não está a adoptar uma decisão política, está a ser velhaco. E está a ser ainda mais velhaco quando tenta limpar a sua face convidando os alunos escolheram acções de caridade onde deverão ser os usados os prémios que deveriam ser. Será que quando os seus filhos têm um bom desempenho estudantil o ministro premeia-os com um mês de Agosto como voluntários no Banco Alimentar contra a Fome?

O ministro pode odiar José Sócrates mas não precisa de levar esse ódio a tudo o que foi feito na educação ao ponto de defraudar expectativas legítimas de milhares de estudantes, manifestando total desprezo pela lei que não lhe permite exercer cargos públicos como se o Estado fosse uma coisa de trazer por casa. Muitos estudantes esforçaram-se tendo por objectivo conseguir os prémios, muitos pais e professores incentivaram-nos, alguns colegas sentiram-se mais motivados e alguns dos colegas calões terão mesmo gozado com eles. Agora, só porque o ministro quer ser coerente com o blogger que foi e não tem sentido de Estado junta-se aos calões e goza com eles. Ignora que muitos deles são estudantes com menos recursos e que iam usar o prémio em material escolar, comprar o PC que os pais não lhe podem comprar ou mesmo comprar a peça de roupa que nunca puderam ter, agora são gozados ao lhes perguntarem quem querem ajudar com seu prémio. É uma pena que a miséria cultural não possa ser considerada, se assim fosse poderiam sugerir que o prémio fosse dado ao ministro, com o seu comportamento revelou-se mais miserável do que qualquer família carenciada deste país.

Este ministro parece ter raiva do que de bom se fez no ensino, chegou a ministro irritado com os relatórios da OCDE elogiando os resultados, cheio de raiva porque muitas escolas foram modernizadas, irado porque as novas tecnologias foram incentivadas. Ignorando que o mais importante é o país e o futuro de gerações de estuantes odeia udo o que foi feito, de forma oportunista dá continuidade a uma boa parte das reformas (avaliação de professores, enceramento de escolas sem qualidade) e revela a sua falta de dimensão humana barafustando com pequenas coisas. Arma-se em defensor da avaliação mas tira os prémios aos que mais se esforçaram para terem avaliações excelentes, detesta tudo o que cheira a tecnologia, odeia os computadores, é um ruralista que aprece tirado de um velho convento no meio da serra para meter o ensino na ordem, o seu ódio a Sócrates leva-o a odiar tudo o que cheire a progresso, ignorando que esse é a maior homenagem que pode prestar a quem tanto odeia.

O ódio de Crato em relação a tudo o que se fez no ensino e que não só foi elogiado por muita gente como significou uma das maiores reformas deste Veiga Simão leva a que este ministro em vez de ter uma política que prove que é melhor do que os seus antecessores opte pela exibição da sua pequenez humana institucionalizando a velhacaria.
 
PS: Pergunte-se ao minsitro Crato se vai sugerir à Universidade Católica que acabe com o prémio pecuniário atribuído todos os anos ao seu melhor aluno e que tem o nome de Cavaco Silva que ostuma presidir à cerimónia.

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento

  
Libelinha no Jardim Gulbenkian, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Capela de S. Pedro de Vir a Corça, aldeia de Monsanto [A. Cabral]
  
Jumento do dia


António Borges

Durante a campanha eleitoral andou por uma menina chamada Barbot a fazer intervenções sucessivas invocando a qualidade de conselheira do FMI para pintar a mantar na sua cor política, agora é António Borges que usa o estatuto de director do FMI na Europa para falar como militante do PSD de que foi vice-presidente ainda há bem pouco tempo.

Se António Borges sabe que anda por cá a troika e que há um processo negocial entre o país e as organizações internacionais deveria abster do seu papel de opinion maker de direita e comportar-se como um director do FMI para a Europa.
 Ridículo

O facto de Cavaco Silva ter escolhido o dia em que o Governo fazia 100 dias para chamar a si o protagonismo dando uma entrevista televisiva. Como se isso não bastasse Cavaco só diz banalidades, passa a vida preocupado em dizer que já tinha avisado e no que toca ao Alberto até aldrabou as contas para o proteger eleitoralmente.

 Quem dá e tira vai para o inferno

Era esta a expressão que usávamos quando eramos putos e alguém dava ou prometia algo e depois não dava ou tirava o que tinha dado, seguindo este raciocínio o ministro Crato deveria ir para o inferno depois do que fez aos jovens estudantes, além de ir para o inferno deveria ir também à merda depois de ter dito que os prémios eram destinados à caridade.
 
Mas além de ir à merda e para o inferno ministro também deveria ir para o tribunal, além de uma asneira e de uma sacanice o que ele fez foi uma ilegalidade que, como chama a atenção Manuel António Pina no artigo publicado no JN e que é aqui reproduzido, o ministro viola o disposto no Código Civil. Mas este ministro deve desconhecer que vive num Estado de direito ou então acha que vive num Estado da direita onde qualquer idiota que chega ao poder faz o que quer.
 
Aqui fica o articulado do Código Civil, pode ser que o ministro saiba ler:

Artigo 459.º

(Promessa pública)

1. Aquele que, mediante anúncio público, prometer uma prestação a quem se encontre em determinada situação ou pratique certo facto, positivo ou negativo, fica vinculado desde logo à promessa.

2. Na falta de declaração em contrário, o promitente fica obrigado mesmo em relação àqueles que se encontrem na situação prevista ou tenham praticado o facto sem atender à promessa ou na ignorância dela.
  
Artigo 460.º

(Prazo de validade)

A promessa pública sem prazo de validade fixado pelo promitente ou imposto pela natureza ou fim da promessa mantém-se enquanto não for revogada.
 
Artigo 461.º
(Revogação)

1. Não tendo prazo de validade, a promessa pública é revogável a todo o tempo pelo promitente; se houver prazo, só é revogável ocorrendo justa causa.

2. Em qualquer dos casos, a revogação não é eficaz, se não for feita na forma da promessa ou em forma equivalente, ou se a situação prevista já se tiver verificado ou o facto já tiver sido praticado.
  
 

 O mexilhão de Colares

«Em 1970, Tom Wolfe publicou uma reportagem, obra-prima do Novo Jornalismo, a vida real narrada literariamente. Contava uma festa no apartamento duplex de Leonard Bernstein, na snob Park Avenue, em Manhattan. Bernstein era um maestro famoso, autor da música do filme West Side Story e membro daquela esquerda caviar à qual Tom Wolfe, intitulando a reportagem de "Radical Chic", cunhou o nome. Naquela festa, além de ricos e famosos (o realizador Otto Preminger, a televisiva Barbara Walters), Bernstein recebia uns convidados de óculos escuros, casacos de couro e cabeleira afro, que foram os heróis da noite: eram membros do Partido Panteras Negras que, entre canapés de queijo roquefort com noz moída, propagandearam a luta armada. Houve também doações para a causa (Preminger deu mil dólares) e exclamações sufocadas das damas ("estes, sim, são homens a sério") - enfim, o trivial do encontro entre a Raiva Negra e a Culpa Branca tão comum naqueles anos. O agora famoso negro americano, George Wright, apanhado esta semana em Colares, Sintra, não estava naquela festa, o seu partido era outro, rival dos Panteras Negras, o Exército Negro de Libertação. Mas em 1970, fugido da prisão, também deve ter conhecido a sua dose de radicais chiques. Hoje, estes ainda devem ser chiques, mas duvido que continuem radicais. A Wright, bom vizinho e bom homem, como se diz em Colares, é que não valerá de nada dizer que mudou em 40 anos. » [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  
 Dar e voltar a tirar

«A suspensão dos prémios de mérito (de 500 euros cada) aos melhores alunos do Secundário do passado ano lectivo, a 48 horas da cerimónia de entrega e já depois de os premiados terem sido notificados para os receberem, é só mais uma das inúmeras trapalhadas que fazem dos penosos 100 dias de Nuno Crato como ministro da Educação um "study case" no género "governação à vista".

Mas a trapalhada não fica por aqui: a suspensão não só foi anunciada em termos contraditórios às diferentes direcções regionais, quando muitas escolas já haviam requisitado as verbas para os prémios, como esses termos são igualmente contraditórios com a última (?) posição do Ministério, a de que os prémios reverterão agora para "famílias carenciadas" à escolha dos felizes contemplados.

A coisa é ainda de duvidosa legalidade (se os governantes que temos se preocupassem com a lei) à luz do regime das promessas públicas regulado no artº 459º e seguintes do Código Civil. Dispõe, de facto, o referido artº 459º: "Aquele que, mediante anúncio público, prometer uma prestação a quem se encontre em determinada situação ou pratique certo facto, positivo ou negativo, fica vinculado desde logo à promessa (...) em relação àqueles que se encontrem na situação prevista ".

Algo deve, no entanto, creditar-se a Nuno Crato no que respeita a promessas: tem levado exemplarmente à risca o seu famoso propósito de fazer implodir o Ministério da Educação.» [JN]

Autor:

Manuel António Pina.
  

 Utentes das SCUT apelam à desobediência

«A comissão de utentes das autoestradas A23, A24 e A25 mostrou-se hoje descontente com a possibilidade da cobrança nas portagens ter início a 15 de Outubro e apelou à desobediência e ao protesto nas ruas.» [DN]

Parecer:

Pois, vamos todos desobedecer aos senhores Belmiro e Soares dos Santos quandos formos às compras ao Continente ou ao Pingo Doce.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proponha-se uma desobediência nas lojas da Apple, vamos todos ter um iPhone e um iPad à borla!»
  
 A Ordem dos Médicos está de parabéns

«A Ordem dos Médicos anunciou hoje que vai assumir, enquanto mecenas, o pagamento de dez prémios de mérito aos melhores alunos do Secundário, que o Ministério da Educação e da Ciência decidiu esta semana cancelar.

Considerando "incompreensível" e "aberrante" a decisão ministerial de cancelar a entrega de prémios de mérito no valor de 500 euros aos melhores dois alunos das 464 escolas secundárias de todo o país, a Ordem dos Médicos anuncia que irá assumir o pagamento de dez das mais de 800 distinções que estavam previstas, apelando à sociedade civil para que se mobilize no sentido de assegurar a entrega das restantes.

"Vamos todos pagar o prémio aos jovens estudantes, que o merecem, e deixar clara a mensagem de que o mérito compensa", apela, em comunicado, o Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos.

Em comunicado, a Ordem esclarece que faz questão de "pagar o prémio ao jovem Miguel Saraiva, da escola Alves Martins, de Viseu, e subscrever integralmente as suas declarações à comunicação social em que afirma: 'Lamento a atitude do Governo e faço votos para que, no final do ano, os prémios dos gestores públicos de milhões de euros também sejam suspensos e possamos todos ajudar Portugal'".

O Ministério da Educação decidiu esta semana não entregar aos dois melhores alunos de cada escola secundária um prémio de mérito no valor de 500 euros, instituído em 2008 no Governo de José Sócrates, e que este ano deveria ser entregue já amanhã na cerimónia do Dia do Diploma.

Em vez disso, o dinheiro será entregue às escolas para projectos destinados a apoiar alunos e famílias carenciadas, cabendo aos estudantes que deveriam receber o cheque selecionar os projetos a beneficiar.» [Expresso]

Parecer:

A decisão do ministro foi absolutamente miserável.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»
  
 Abençoadas dívidas

«O líder madeirense diz que não faz política para contabilistas. "Tenho orgulho de ter feito dívida. Abençoada seja a dívida", disse Alberto João Jardim.» [Expresso]

Parecer:

Palhaçadas madeirenses.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Batam-se palmas ao palhaço político.»
  
 O que será violência doméstica
 
«Na primeira instância, o Tribunal Judicial de Setúbal aplicara uma pena de um ano e meio de prisão, com pena suspensa, condenando o arguido por um crime de violência doméstica.

A suspensão da pena ficava dependente do pagamento de 8.000 euros à vítima.

O arguido recorreu e o Tribunal da Relação decidiu condená-lo apenas por um crime de ofensa à integridade física simples, em 800 euros de multa, e fixou em 500 euros o valor a pagar à mulher, por danos não patrimoniais.

O tribunal deu como provado que desde 2004 o arguido em “diversas ocasiões desferia murros e pontapés” e injuriava a mulher, com quem era casado há mais de 30 anos.

A 06 de Junho de 2008, o arguido, agricultor, agrediu a mulher com uma cadeira, dando-lhe uma pancada no peito e provocando-lhe uma contusão da parede torácica, um hematoma na região frontal e na mama e escoriações nos lábios e cotovelo.

Segundo a Relação, esta agressão “não foi suficientemente intensa” para justificar a qualificação do crime como violência doméstica.» [Público]

Parecer:

Esta da intensidade faz-nos pensar que na Relação está um juiz da bola...

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
  

 Too much of a basic human need [Boston.com]










 Tattoos [Link]







   




quinta-feira, setembro 29, 2011

A Europa vai resistir à globalização?

A actual crise do euro tornou evidente a dificuldade da Europa em gerir os interesses em conflito dos seus Estados-membros. Objectivos como a coesão deram lugar a interesses nacionais, a solidariedade deu a vez aos egoísmos nacionais, é cada vez mais o que divide os Estados-membros do que o que os une. Os economistas alemães falam dos países do sul com o mesmo respeito com que os oficiais das SS se referiam aos povos inferiores, os finlandeses referem-se a países como Portugal ou Grécia de forma quase pejorativa, os jornais da especialidade referem-se há muito aos “pigs”.

Sem inimigos externos poderosos nas suas fronteiras, com a Finlândia e os países do Leste livres da URSS, com a Alemanha reunificada a Europa esqueceu-se da sua história e abriu o baú das divergências antigas. Agora são os países do Sul que estarão a mais no euro se não souberem ser competitivos, amanhã regressarão os problemas das fronteiras da Europa Central.

A globalização e um euro desregulamentado levaram a que as economias europeias sejam cada uma por si, que compitam mais no espaço do euro na tentativa de cada uma ficar com a maior parte dos ganhos gerados pela falsa união monetária do que o fazem com as economias concorrentes da Europa. A Alemanha troca as indústrias do Sul por negócios com a China, multiplicam-se os negócios em off-shores dentro do território europeu, os governos tentam ser mais competitivos do que os vizinhos com políticas fiscais agressivas que visam desviar os investimentos.

Nos EUA ninguém ouviu chamar pigs aos Estados federais à beira da falência, ninguém condenou a Califórnia a programas brutais de austeridade, os governos federais não falam em retirar soberania aos que estão em dificuldades. Na Europa é o espectáculo triste a que estamos a assistir, está a destruir-se em meia dúzia de anos o que levou dácadas a construir.

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Flor (pólen) da Quinta das Conchas, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Catavento, Viseu [AJ Carvalho]
  
Jumento do dia


Nuno Crato

O mínimo que se pode dizer da suspensão dos prémios a atribuir aos melhores alunos a três dias da data fixada é que se trata de uma decisão miserável, mais miserável ainda quando se diz que o dinheiro vai ser distribuído em apoio social nas escolas onde estudam os alunos premiados. E onde vai Crato investir o equivalente aos adjuntos caros ou ao buraco da Madeira.
 
Mal ou bem foram instituídos prémios, os alunos estudaram, concorreram e mereceram-nos, suspendê-los é uma decisão inaceitável a qualquer título. O ódio a tudo os que Sócrates fez é irracional, por este andar ainda vão odiar Portugal. Se fosse encarregado de educação de um dos alunos enganados mandaria uma carta ao ministro dizendo-lhe das boas.
 
«O prémio de mérito no valor de 500 euros, que distingue os melhores alunos dos vários cursos do ensino secundário de cada uma das escolas do país, foi suspenso pelo actual Governo.
 
Na resposta ao PÚBLICO, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) já não faz depender a aplicação do dinheiro da prévia requisição daqueles montantes: "O valor pecuniário será afecto a projectos existentes na escola destinados a apoiar alunos ou famílias carenciadas, cabendo ao conselho pedagógico elencar as diversas necessidades". Ao aluno que deveria receber o dinheiro caberá seleccionar "aquela que deverá ser beneficiada", aponta o MEC, destacando que a alteração visa incentivar "a solidariedade".

"Solidariedade forçada? Com que cara vou chegar ao pé dos alunos a quem já pedi que estejam presentes e disse que iam receber 500 euros? Quando se dá, dá, não se volta a tirar", criticou ontem Adalmiro Fonseca, da Associação Nacional de Directores de Escolas Públicas. Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, diz-se "chocado": "O Governo não pode criar expectativas e defraudá-las assim".» [Público]

 Mais uma mentira de Passos Coelho, e vão 32!

  
Não, não será desta que um líder do PSD porá os interesses acima dos do PSD madeirense, mesmo quando o comportamento do partido tenha causado graves prejuízos ao país e obrigado Passos Coelho a inventar um desvio colossal para que os portugueses pagassem os desvarios despesistas madeirense sem saberem que estavam a dar mais uma ajuda aos senhores dos sifões.
 
«Alberto João Jardim conseguiu, pelo menos, uma das coisas que mais queria. Ir a votos (no próximo dia 9) sem que se conheça o plano de ajustamento orçamental que o Governo vai aplicar na Madeira. O resultado da auditoria às contas da Região vai ser conhecido na sexta-feira, mas o pacote de medidas draconianas que os madeirenses vão sentir na pele fica para depois das eleições.

Pedro Passos Coelho assumiu hoje, no Parlamento, ter "falado demais" quando, numa resposta a Francisco Louçã, no debate com a oposição há 15 dias, disse que as duas coisas seriam conhecidas até ao final de Setembro. O primeiro-ministro disse não haver tempo para as duas coisas e alegou que o plano de ajustamento terá que ser negociado com o futuro Governo já que agora se está em campanha eleitoral.» [Expresso]
     
 

 A troika fez cem dias
  
«Foram cem dias a fazer a parte fácil. O mais difícil ainda está para chegar, o teste em que Portugal mostra que, de facto, não é a Grécia.
 
Foram cem dias a fazer a parte fácil. O mais difícil ainda está para chegar, o teste em que Portugal mostra que, de facto, não é a Grécia. E para isso não chega um Governo com maioria e um plano suportado também pelo maior partido da oposição. É preciso que os portugueses saibam ser uma equipa que distribui os sacrifícios.

Estes foram os primeiros cem dias mais difíceis de um governo em Portugal desde que em 1986 se entrou na então CEE. Mas apesar da equipa de Pedro Passos Coelho ter conseguido antecipar os problemas mais graves e de os resolver antes da credora troika dar ordens, ou de manifestar a sua insatisfação, está muito longe de poder respirar de alívio. Até agora o Governo fez, por incrível que pareça, a parte mais fácil: usou a habitual arma de emergência chamada mais impostos para combater as frentes de batalha geradas pela Madeira, pelas decisões das forças armadas e das polícias e pelo BPN. Por junto, foi preciso encontrar 1,1% do PIB, ou cerca de 2.500 milhões de euros, para garantir que será atingido este ano um défice público de 5,9% do produto, conforme exigido pelo memorando de entendimento que garantiu o empréstimo a Portugal.

O défice público deste ano, sem as medidas de emergência, seria de 7,4% do PIB. De tudo o que se fez para "tapar" o dito "desvio colossal" apenas o imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal pode ser repetido - coisa que ninguém deseja. Tudo o resto tem de ser "tapado" com cortes na despesa pública para além do que já teria de se fazer para atingir o objectivo de 2012 - um défice público de 4,5% do PIB. Ou seja, o Orçamento do Estado do próximo ano tem de fazer cortes da ordem dos 4.600 milhões de euros sem usar os fundos de pensões dos bancos e com o IVA da energia já mais elevado. E este é um valor que, mesmo já sobrestimado neste momento, pode revelar-se pequeno, uma vez que o PIB promete ser inferior ao que está previsto - como já admitiu o Governo ao antecipar uma recessão mais grave do que o projectado pelos documentos da troika - e as receitas fiscais correm o risco de correr muito pior do que o antecipado. Ninguém sabe, por exemplo, se o fim das deduções com as despesas de saúde nos dois escalões mais altos de rendimento vai gerar mais receita ou, pelo contrário, desencadear um aumento da fuga fiscal e ainda mais problemas no Serviço Nacional de Saúde - que por sua vez enfrenta um corte de despesa da ordem dos 500 milhões de euros.

A dimensão do esforço de corte de despesa é ainda mais colossal do que o desvio detectado este ano. Neste momento o Governo ainda consegue anunciar planos de emergência social, campanhas de turismo e até subsídios para as empresas empregarem quem está desempregado. Com o esforço que tem pela frente, muitos destes anúncios não passarão disso mesmo, anúncios. Corremos mesmo o risco de o Estado não ter de pagar os tais apoio ao emprego porque não haverá empresas que possam empregar.

Há um único caminho para conseguirmos ultrapassar com sucesso o ano de 2012. É seguir a via do compromisso, é conseguir que todos os portugueses funcionem como uma equipa, uma comunidade, uma sociedade. Se cada um insistir em manter os seus ganhos, o destino será o fracasso que significa a humilhação e a perda de soberania.

Lamentavelmente ainda continuamos a ver os lóbis a lutarem para ficarem com as rendas que durante as últimas décadas extraíram dos contribuintes e os mais fortes, nas empresas como na Administração Pública, a lançarem os cortes sobre os mais frágeis. Por esta via não vamos lá. O sucesso dos países do Norte da Europa tem um segredo que se chama a união faz a força. Sem isso teremos muito mais que a troika executada por um governo eleito, teremos a troika a governar Portugal.» [Jornal de Negócios]
Autor:

Helena Garrido.
  
 O 'tchador' da Rainha Isabel

«Esta semana, às mulheres de dois países muito diferentes - um, moderno e democrático, e outro, ainda na Idade Média - foi feita a mesma promessa de aproximação à igualdade. A umas, a do fim de uma condição que, embora só interessando directamente a poucas, espanta pelo atraso ao já conseguido pelas suas concidadãs. A outras, a promessa de uma pequenina reforma que por mudar um marasmo milenar só pode ter efeito de dique a rebentar. Desta última promessa já falei ontem: o Rei saudita revelou que as mulheres da Arábia Saudita vão poder eleger e ser eleitas nas únicas eleições permitidas no país, de pouca importância (municipais) mas com forte valor simbólico num país onde elas nem podem conduzir automóveis. Por uma coincidência extraordinária, ontem também, o Times de Londres anunciava que o Governo inglês vai propor a mudança de uma condição anacrónica, o fim da "primogenitura", que no costume inglês dá prioridade no direito de herança real ao filho varão. Se em vez da princesa Margarida a Rainha Isabel tivesse tido um irmão mais novo, era este que teria chegado ao trono... Ao que parece, a nova lei vai ser feita a correr antes que Kate engravide do príncipe William e, tendo uma filha (que não poderia beneficiar retroactivamente), complique a mudança desejada. Vinda de lugares tão opostos, Riade e Londres, a coincidência das notícias só sublinha que a igualdade não são favas contadas onde quer que seja.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  

 Já não há pachorra para o Alberto!

«Depois de reiterar que "não há nada a esconder", Jardim afirmou que teve "a honestidade de pedir a intervenção da República antes das eleições, não é como os Açores que deixou para novembro".

O responsável adiantou que o "acerto de contas" será feito "com o Governo da República" e não com a troika.

"Eu nunca assinei nada com a troika. Não assino nada com a troika. Não vou estar aqui para aturar políticas que só pensam no défice", declarou Alberto João Jardim, notando que os madeirenses, "como os outros portugueses", vão "fazer sacrifícios por igual", logo "o tratamento da dívida vai ser também igual para todos", sejam do Continente ou da Madeira.

"Também somos portugueses e, portanto, se o Estado português vai pagar a dívida a 30 anos, eu exijo que também a dívida da Madeira seja paga a 30 anos; se o Estado português vai pagar a dívida com os juros baixos que foram criados pelo Banco Central Europeu, então são esses mesmos juros baixos que se aplicam à Região Autónoma da Madeira", considerou.» [Expresso]
Parecer:

Por que no te callas?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Metam-lhe uma rolha na fossa!»
  
 "Não é verdade meu amigo?"

«"José Sócrates, que é meu grande amigo, está ali sentado, é estudante aqui neste instituto, foi primeiro-ministro português", disse Lula da Silva na parte improvisada do seu discurso de agradecimento pelo doutoramento honoris causa que acabara de receber do Instituto de Ciências Políticas de Paris, uma prestigiada instituição francesa.

Na altura, Lula da Silva proferia um longo e apoiado elogio à primazia da política sobre a economia e os mercados. Num aparte imediato, virando-se para o antigo primeiro-ministro José Sócrates, atualmente ali a frequentar um curso, acrescentou: "Não é verdade, José Sócrates? É a política, a política, meu amigo!".» [Expresso]

Parecer:

O quê, Sócrates ainda tem amigos?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Informe-se o Miguel Relvas, o tal do MP e a Felícia.»
  
 Afinal, era um falso corretor

«Alessio Rastani, um suposto corretor independente, tornou-se mundialmente famoso ao dizer, em entrevista à BBC, que sonhava com outra recessão para fazer mais dinheiro, assegurando que o mundo é controlado pela Goldman Sachs (principal banco de investimento dos EUA). Agora, e depois de outra entrevista, desta vez à ‘Forbes’, Alessio Rastani admitiu ao ‘Daily Telegraph’ ser um “aficionado” e um “charlatão”, desmentindo a BBC, que defendeu a sua credibilidade mesmo quando esta foi posta em causa pelos mais cépticos. Ainda assim, Rastani assegura: “Quis dizer tudo aquilo que disse.”» [CM]

Parecer:

Mas será que não terá dito o que muitos pensam?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se às agências de rating.»