quinta-feira, setembro 30, 2021

O QUÊ?


 

Todo o país percebeu que ali para os lados de Belém o mar estava com cachão por causa dos ventos vindos de São Bento. Mas é uma pena que o nosso comandante supremo das Forças Armadas não use farda, como sucede com os reis de Espanha, senão, em vez de trajes de comentador televisivo, Marcelo teria vestido a farda de almirante, a lembrar O rei Juan Carlos a falar aos golpistas do 23F.

Mas em vez de um almirante vimos um comentador explicar aos 10 milhões de alunos que essa coisa da promoção do contra-almirante já estava agendada. Ficámos desiludidos, afinal, aquilo que se pensava ser um prémio pela última batalha das Forças Armadas, já estava combinada.

Mas o que mais chamou à atenção foi um pormenor que escapou a muita gente. O atual Chefe do Estado Maior da Armada anteciparia a sua saída do cargo, para que outros pudessem ascender ao cargo, antes que fossem navegar para as águas tranquilas da reserva naval.

Isto é, os cargos de topo das nossas Forças Armadas não são para comandantes militares, mas sim para pré pensionistas poderem ter mais uma promoção. E tudo devidamente explicado no meio de um recado ao comandante supremo ao grumete do ministro da Defesa.

terça-feira, setembro 28, 2021

NOVOS TEMPOS EM BELÉM


 

Nos tempos de Cavaco Silva o que o então PR queria que constasse era comunicado aos jornais sob a forma de “fonte de Belém”. Quando as coisas corriam mal Cavaco Silva apressava-se a esclarecer que só o que ele dizia contava.

O regabofe das fontes de Belém chegou a um ponto tal, que quando Marcelo ganhou as presidenciais apressou-se a dizer que lhes tinha silenciado com uma rolha. E acabaram, o que é fácil de se perceber, com um PR a falar de manhã à noite, a fonte de Belém é mesmo o presidente, ainda que às vezes pareça menos credível do que as fontes de Cavaco.

Mas parece que as coisas mudaram, com as últimas eleições autárquicas as fontes de Belém ressuscitaram. Ninguém fale em fontes, não vá alguém perguntar ao Marcelo se contratou o Fernando Lima, o antigo jornalista que fez de Cavaco um político e depois de durante tantos aos ao serviço da carreira de Cavaco, foi descartado por causa das famosas escutas em Belém. Enfim, ironia do destino, a fonte de Belém foi dispensada por causa das escutas a Belém...

Agora, usa-se nova terminologia, quando querem que saibamos o que pensa Marcelo sem que o PR assuma a responsabilidade pelo que terºá dito ou terá mandado dizer dizem que será o que se ouve ou pensa "em Belém". Isto é, já não há um “garganta funda oficiosa no palácio”, agora falam alto nas salas do palácio e um qualquer jornalista, que por coincidência passe junto de uma das muitas janelas abertas, ouve os funcionários dizerem o que por ali todos dizem, o que o Presidente quer que se ouça fácilmente nas janelas que dão para a rua.

Estarei enganado ou depois dos “novos tempos” em Lisboa, vamos ter também ter “novos tempos” em Belém? Parece que sim. É como cantou José Mário Branco "Mudam-se os tempos, mudam as vontades".


PS: Na foto aparece um encontro casual entre Marcelo e o agora presidente da CM de Lisboa. Um encontro tão casual como o que aconteceu nas últimas autárquicas entre o mesmo Marcelo e a então candidata do PSD. Enfim, parece que sou o único português que não tem uma selfie com o Presidente , nem se encontrou casualmente com ele.





segunda-feira, setembro 27, 2021

O CASE STUDY

Se este governo cegar ao fim da legislatura sem qualquer remodelação e ganhar as próximas eleições legislativas, sendo um governo minoritário e com alguns ministros “espanta votos” estaremos perante um fenómeno político.

Ainda não percebi se António Costa está sugerindo que o consideramos um case study, mas começo a desconfiar de que sim, talvez estejamos perante um fenómeno político merecedor de atenção de analistas e dos cientistas da ciência política.

Para já, parece que o primeiro-ministro está muito empenhado nesta ideia, tão empenhado que até correu o risco de ir a votos nas autárquicas, partindo do princípio de que armado de uma bazuca evitava o fogo dos tanques inimigos.

Para já, o balanço não foi muito negativo, perdeu algumas câmaras, ganhou outras e continua a ser o maior partido autárquico. Perdeu Lisboa e Coimbra, isso não representa grande custo, afinal, conquistou Monchique  e mais algumas minudências autárquicas. Estatisticamente, neste saldo de derrotas e vitórias seria tão grave perder Alcoutim como Lisboa, as contas são simples na escolha do presidente da associação dos municípios cada câmara vale um voto.

Se António Costa perdeu Medina, mas em contrapartida não atirou o Eduardo Cabrita pela borda fora, antes pelo contrário, até ajeitou o orçamento familiar com um cargo para a esposa. Um balanço deveras positivo, perdeu Medina um autarca que vale tanto como o presidente de Barracos ou de Alcoutim, em contrapartida, manteve umas das famílias mais nobres da corte.

António Costa está de parabéns ganhou as eleições. Só espero que não se recorde dos políticos que tiveram carreiras que terminaram em cargos de primeiro-ministro ou de Presidente da República, depois de terem conquistado essa câmara municipal que na contabilidade eleitoral vale tanto como Alcoutim.