Não gostava especialmente dele mas admirada a sua coerência,
sempre defendeu as suas ideias de forma tenaz e austera, sem espetáculo, sem se
aproveitar dos momentos de cada agenda. Não trabalhava para likes ou selfies,
defendia o seu programa e em especial o seu SNS, fê-lo até ao fim, mesmo quando
sabia que seria a última coisa para a qual tinha forças.
Não sou dado a funerais e obituários, não costumo evocar
falecidos, deixando a tarefa a amigos e companheiros. Mas neste caso abro uma
exceção, porque o homem que morreu merece a homenagem que os honestos merecem,
dedicou-se às suas causas, algumas delas eram nossas, outras não, mas pelo a
pensar no bem público.
No mesmo jornal onde onde dou de caras com a notícia da sua
morte ficou a saber que os que ajudaram Oliveira e Costa a empurrar o país para
o primeiro buraco que foi o lodaçal da nossa crise financeira, ganham mais do
que um Presidente da República e para ganharem mais de 12.000€ apenas têm que
fazer nada, isto é, são pagos para gozar com os portugueses e, em especial, com
os mais pobres, aqueles de quem Passos Coelho dizia que tinham cometido o
pecado da gula, algo que pessoas como o Vítor Bento se apressaram a dar forma
de teoria económica.
São dois países diferentes, o país onde se debate ideias e
se luta pelo bem comum, independentemente de se ser da direita ou da esquerda e
o país da fussanguice do enriquecimento fácil do Porshe Cayenne para mostrar à
vizinhança, da casa na Quinta do Lago, do fato do Rosa & Teixeira ou das
festas nas praias algarvias.
Hoje, mais uma vez como sucede quase sempre neste país,
ganharam os segundos.