sábado, julho 30, 2016

A experiência que falhou

A saída foi festejada como limpa, Portugal era um caso de sucesso, quase tão exemplar como o irlandês e o inverso da vergonha grega, o governo tudo fazia para penalizar os gregos por estes não quererem engolir o xarope que tinha sido milagroso em Portugal, os badamecos da troika pavoneavam-se pelos corredores dos palácios como grandes vedetas bem-sucedidas, Portugal era o modelo de todas as virtudes.

O ajustamento foi um sucesso, a saída foi limpa, a banca nem precisou dinheiro que lhe estava destinado, a competitividade tinha sido reconquistada e Portuga ainda iria ser o país mais competitivo do mundo, o mercado laboral criava emprego como nunca se tinha vista. Havia que manter o ímpeto reformista, impedir a todo o custo a reversão das grandes conquistas alcançadas.

E eis que alguém faz um estudo e chega à brilhante conclusão: em Portugal só se fez merda! Afinal não era preciso tirar a pele aos trabalhadores porque o problema não estava na competitividade, isto é, o problema do emprego não resultava dos custos do trabalho e, por conseguinte, as reformas laborais não eram assim tão importantes. O problema, dizem agora, era da falta de poupança.
  
Se o problema era de poupança a culpa era de quem estimulava o consumo e ganhava com ele, a culpa não era nem dos funcionários e muito menos dos pensionistas ou de quem comprava um quilo de sardinhas congeladas com taxa reduzida do IA. A culpa era de quem estimulava o crédito ao consumo para ganharem juros despudoradamente vantajosos ou de quem nunca ganhou tanto com a venda de sardinhas congeladas. Portugal tinha os consumidores mais tesos da Europa, mas a crer em Cavaco tinha uma banca de excelência empresas de distribuição com peso internacional.
  
Agora dizem que falharam, mas não vão devolver as casas aos que as perderam, não vão dar vida aos morreram abandonados nas urgências, nem vão pagar o bilhete de regresso aos que fugiram de Portugal. Passos Coelho vai ficar em silêncio e nunca assumirá a responsabilidade de ter entregue o país para banco de ensaio de gente incompetentes, dos Portas ninguém sabe e a Luisinha está a dar banhos à celulite. Ninguém vai assumir a responsabilidade e ainda vão dizer que o problema esteve na dose e defender o seu reforço.

Nenhum deles vai ser condenado, Passos Coelho e família vão continuar a beneficiar de um SNS que tentaram destruir, o senhor Carlos Costa vai ter a sua pensão, o filho do Barroso não vai ter de emigrar e continuará no BdP, nenhum deles vai ter um filho a emigrar por falta de emprego, nenhum deles vai responder pela responsabilidade criminosa numa experiência falhada.