terça-feira, dezembro 27, 2016

Umas no cravo e outras na ferradura




 Jumento do Dia

   
Joana Marques Vidal, Procuradora-Geral desta República

Ainda não há qualquer acusação consistente ou provas suficientes para acusar os arguidos do processo O-, mas os nossos justiceiros não se contiveram e já começaram a surgir notícias na comunicação social, que a corresponderem a elementos constantes do processo provam o crime de violação dio segredo de justiça.

Isto é, muito antes de se provar o s crimes de que os arguidos são suspeitos já há prova do crime de violação do segredo de justiça. A sofisticação foi tanta que até em pleno Natal se cometeu este crime, talvez para aproveitar de algum vazio noticioso. É óbvio que dentro de dias a Procuradora-geral abrira´o competente processo para investigar a eventual violação do segredo de justiça, processo que terá as consequências e destino de todos os anteriores, depois de se gastarem alguns trocos dos contribuintes, com a necessária burocracia interna, os processos serão arquivados por falta de prova.

 Houve missa em Alepo

Durante meses fomos bombardeados com imagens de Alepo, de um lado estavam democratas, do outro o ditador. Quando a batalha terminou vieram as imagens de destruição e de abandono de Alepo. Mas, afinal, ainda há gente em Alepo, gente que foi esquecida pelo Ocidente, gente cujas crianças mortas, mulheres vendidas, ou homens massaxcrados não tiveram direito a imagens de denúncia. Os cristão de Alepo puderam ir à missa neste Natal.

 Coro do Exército Vermelho

EU sei que não há mal na morte de russos, ninguém se importa que caia um avião no ar negro ou que a bordo dele esteja um dos coros mais famosos, pouco importa porque são russos. Se fossem franceses, ingleses ou americanos já haveriam t-shirts com o "je suis", mas como foram russos a morrer no acidente, mereceram tantas homenagens como os que foram mortos na sequência da colocação de uma bomba num avião russo que voava sobre o Sinai.

Para a história da propaganda ocidental ficará um avião cheio de bárbaros que iam festejar o Natal com os bárbaros da Síria. Muito estranhos estes bárbaros que iam celebrar o Natal com música.



      
 O nosso coro que caiu no mar Negro
   
«Ainda li, embora fossem já velhas edições, dezenas de Reader"s Digest com hosanas aos soldados soviéticos. Foi das minhas lições iniciais de relativismo. Quando comecei a ler as revistas - ah, as lições de português de Buarque de Hollanda, pai do dicionário Aurélio e primo do cantor Chico -, já a Rússia era inimiga e tratada assim. Russo protagonista era espião acabado de ser apanhado pela antena da CIA em Viena. Aconteceu-me, por gripes de infância, misturar o espião russo, mau, com o herói tenente russo combatendo o cerco nazi de Estalinegrado - ambos do mesmo regime mas vistos pelo prisma de dez anos de distância entre duas edições da propaganda americana... Repito, grande lição de que o que é talvez deixe de o ser daqui a pouco. Mas o importante é ter Gogol, Dostoievski, Andrei Rublev e Tchaikovsky para manter marcos comuns e retomar fios condutores. Isto para dizer que fosse eu diretor do jornal faria manchete com a queda do avião russo que levava a bordo o Coro do Exército Vermelho (está bem, chamemos-lhe Ensemble Alexandrov para não espantar ofendidos) que ia cantar para soldados de Aleppo. Olha, Aleppo - outra relatividade, é certo que foi guerra e, como todas, suja, mas, acerca dos fascistas islâmicos, libertou a cidade deles. Então, sobre as vítimas da queda do Tupolev: saudemos os nossos mortos, que ainda por cima cantavam tão bem. E a manchete era para prepararmos alianças, pois vamos precisar delas.» [DN]
   
Autor:

Ferreira Fernandes.

      
 Recomeçou a orgia
   
«A investigação ao património de Luís Cunha Ribeiro, o ex-presidente do INEM e ex-presidente da ARS (Administração Regional de Saúde) de Lisboa que esteve à frente do júri de um concurso público que deu o monopólio à Octapharma no fornecimento de plasma humano ao Serviço Nacional de Saúde, levantou outras suspeitas além da corrupção relacionada com o favorecimento daquela multinacional farmacêutica.

A Polícia Judiciária (PJ) descobriu que um apartamento alegadamente oferecido a Cunha Ribeiro em 2003 por Paulo de Lalanda e Castro, administrador da Octapharma, teve o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) pago por um empresário do Porto, Paulo Damião e Cunha, dono da Medidata, uma empresa que vende soluções informáticas para câmaras municipais. O facto levou a que a residência e o escritório de Damião e Cunha tenham sido alvo de buscas na sequência da detenção, na semana passada, de Cunha Ribeiro e de Lalanda e Castro.

O Ministério Público (MP) e a PJ suspeitam que o pagamento do IMI está relacionado com ligações indiretas de Damião e Cunha a contratos estabelecidos com o INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) durante o período em que Cunha Ribeiro esteve a chefiar aquele serviço, entre 2000 e 2003. O Expresso confrontou o empresário por e-mail mas Damião e Cunha escusou-se a dar respostas: “Tanto quanto julgo saber, as questões a que se refere estão a ser alvo de investigação judicial. Assim sendo, penso que não posso fazer qualquer tipo de comentário que possa interferir no referida investigação.”

Aberto em 2015, o inquérito-crime batizado com o nome de ‘Operação O Negativo’ poderá alargar assim o espectro da investigação, que tinha desde início as suas atenções concentradas na relação entre Cunha Ribeiro e Lalanda e Castro e a circunstância de ter sido descoberta uma sequência de vantagens patrimoniais dadas pelo administrador da Octapharma àquele médico especialista em imuno-hemoterapia. Cunha Ribeiro foi diretor do serviço de imuno-hemoterapia do Hospital de São João do Porto até 2003 e foi nessa qualidade que foi chamado a presidir ao júri do concurso público para o fornecimento do plasma humano lançado em 2000, quando Manuela Arcanjo ocupava o cargo de ministra da Saúde, no último governo de António Guterres.» [Expresso]
   
Parecer:

Os arguidos, familiares, amigos e conhecidos dos arguidos do processo O- que se cuidem, começou a orgia justicialistas e todos os pormenores da sua vida serão vertidos para a comunicação social apoiante dos magistrados e muito antes de qualquer acusação ou julgamento já terão sido difamados, condenados e condenados de novo na praça pública. É assim a justiça portuguesa, é medieval mas como não pode queimar as pessoas no Terreiro do Paço queima-as na comunicação social.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Ignorem-se os julgamentos na praça pública e  condene-se a PGR por este espectáculo medieval.»