sábado, abril 04, 2020

O VERDADEIRO INIMIGO


A G3 ou a Ak47 matam facilmente, mas numa guerra os inimigos não são as armas, são os soldados inimigos que as disparam. É por isso que neste caso da luta conta a pandemia o nosso verdadeiro inimigo não é o malfadado coronavírus, mas sim os idiotas que o andam a disparar por aí. É o meu vizinho descuidado que espirra para o corrimão, o desconhecido que por causa da fila desata a berra no hipermercado, enfim, uma infinidade de soldados inimigos que nem usam farda, nem exibem as suas armas.

Mas nesta guerra também há o chamado fogo amigo, muitas vezes provocado pela incompetência de alguns generais. Quando se questionou os riscos de contaminação numa sala de aula ouvi um alto responsável assegurar que não havia grande risco, já que os seus perdigotos dificilmente atingiriam os alunos da primeira fila. Ainda bem que as aulas foram suspensas, porque se acreditássemos nesse responsável a esta hora as escolas seriam hospitais.

Este inimigo mata usando uma nova estratégia de guerrilha, engana os nossos generais inoculando-lhes ignorância e levando-os a tomar decisões erradas, transforma os nossos familiares e amigos em soldados inimigos, coloca minas nos locais mais inesperados, dos óculos ao smartphone, do corrimão aos botões da braguilha.

E enquanto alguns responsáveis anda pulando de evidência em evidência científica ou inaugurando hospitais de campanha ou espalhando um otimismo que apenas serve para termos uma imensa vontade de passear, os inimigos vão-se multiplicando e instalando-se em todos os pontos de onde é mais fácil acertar-nos.

O inimigo pode ser o amigo, o político irresponsável, a senhora da limpeza descuidada. Esta guerra só será ganha com uma arma de destruição maciça, que é a vacina ou a cura. Mas a batalha que agora travamos e que determinará uma grande parte das vítimas que vamos sofrer nesta guerra será perdida se cada um de nós não for um bom soldado e se os nossos “generais” forem irresponsáveis, oportunistas ou incompetentes. O verdadeiro inimigo são os nossos maus soldados e os generais incompetentes.