sexta-feira, dezembro 29, 2006

2006: Um ano em que pouco mudou


Apesar de todas as reformas de que tanto se fala e de que os portugueses tomaram conhecimento mais pelos protestos do que pela sua explicação a verdade é que em 2006 pouco mudou, assim como pouco vai mudar em 2007. As reformas, bem ou mal amanhadas, bem ou mal explicadas, mais ou menos indispensáveis, são inevitáveis, se uma mudança profunda do país não será posível inverter o processo de decadência da economia portuguesa.

Mas emagrecer não significa necessariamente combater o colesterol, uma boa parte das reformas não se traduziram nem vão resultar em qualquer mudança qualitativa significativa, o país vai continuar vulnerável, basta dois meses de Governo de um qualquer Santana Lopes para que tudo volte à primeira forma, e um povo cansado do discurso da austeridade apoiará dar-lhe-á o apoio incondicional.

Não foi por as ex-mulheres dos polícias terem deixado de beneficiar do sistema de saúde do ex-marido que há mais segurança, ou porque os juízes vão dar umas bengaladas na sala de audiências durante o mês de Julho que a justiça fica mais célere e muito menos mais justa, ou porque se reduzem cinquenta mil funcionários públicos que o Estado fica mais moderno, ou porque são dadas umas aulas de substituição que os estudantes portugueses aprendem mais.

A modernização de um país não passa apenas por reformas que apenas são avaliadas pelo impacto nas contas públicas, nem as reformas podem ser feitas para se ouvirem elogios dos comissários ou de funcionários cinzentos da Comissão Europeia esquecendo o envolvimento dos cidadãos. Não é para que os comissários falem bem dos governos ou para que sejam publicados artigo elogiosos na The Economist que as reformas servem, elas são necessárias para que os portugueses possam ter esperança num futuro melhor.

O país precisa de se modernizar e para se aproximar dos que estão à frente terá que ser melhor do que eles. Para isso precisamos de reformas a sério e de arregaçar as mangas enquanto povo, mas é importante que essas mesmas reformas sejam explicadas aos portugueses, de nada servem as palmadinhas do Durão Barroso se os portugueses forem esquecidos.

Sou defensor das reformas, até iria mais longe do que tem ido o Governo, mas essas reformas não podem servir para animar o PSI 20 e alegrar os banqueiros, de nada servirão as reformas se os que trabalham apenas ouvem do Governo que ganham demais como se em Portugal se ganhasse assim tão bem quanto isso. Chega de reformas justificadas pelo medo e que não se traduzem em esperança, que apenas visam não ficarmos pior do que já estamos.

Da mesma forma que sou defensor das reformas também defendo que o Governo deve dar exemplos, os mais ricos, os aparelhos partidários, os administradores de empresas do Estado e os políticos deverão ser os primeiros a dar o exemplo. E a verdade é que enquanto o Governo mudou o sistema de saúde dos juízes, dos jornalistas ou dos polícias em meia dúzia de meses ou mesmo de semanas levou uma eternidade para mudar o esquema das reformas do banco de Portugal e quanto às empresas do Estado nada mudou.