sábado, março 26, 2016

O país que somos

 photo acidente_zpsqik7rkqf.jpg

O país visto a partir de Lisboa quase parece ser um país desenvolvido, é essa a imagem que passam as elites citadinas, desde os jornalistas aos políticos. Mas a verdade é que Portugal é um dos países mais pobres da União Europeia, não é o país rico onde um Pires de Lima não usava sapatos aí fabricados.

Mas, infelizmente, de vez em quando somos confrontados com a realidade, com o país que somos, com o Estado ineficaz que temos, com os empresários de expedientes que se multiplicam na economia. Foi o que sucedeu com o acidente em França, onde mataram doze emigrantes. Mas se não fosse a avidez da nossa comunicação por sangue. O assunto mal teria sido notícia, emigrantes que morrem numa estrada de Espanha não merecem muita atenção, todos os anos morrem muitos e quase ninguém dá por isso.
  
A nossa comunicação social é tão distraída que mostrava as imagens de uma furgoneta a que chamavam “mini bus”. Era mais que óbvio que naquele veículo dificilmente caberiam treze pessoas e que aquilo eras uma lata de sardinhas com duas janelas e um para-brisas. Foram as autoridades francesas que repararam no absurdo de uma carrinha de seis lugares transportar doze numa viagem de quase dois mil quilómetros. Foram as mesmas autoridades que repararam na idade do condutor, dezanove anos, um motorista inexperiente e sem idade legal para transportar passageiros.
  
O país ficou a saber que muitos dos nossos concidadãos viajam enlatados em veículos e transporte de mercadorias, conduzidos por motoristas com 19 anos, sem qualquer experiência e sem quaisquer controlos das horas de sono ou da velocidade. De certeza que temos legislação mais do que suficiente para impedir isto, mas as nossas autoridades andam mais entretidas na caça de multas fáceis, para encherem os cofres das polícias, receita necessária para carros novos e para financiar as passagens à reserva.

Doze mortos deveriam ser mais que suficientes para que tocasse um sinal de alarme, quantos emigrantes são transportados nestas condições, quantas falsas empresas de transportes se aproveitam de um negócio sem regras e sem impostos, quantos portugueses morrem neste negócio duvidoso?
  
Mas não, ninguém se incomodou, podem morrer portugueses nas estradas da emigração, uma dúzia de cada vez, mais importante do que isso foi o saco de plástico que alguém perdeu na estação de comboios de Entrecampos que levou a polícia a parar meia capital numa grande encenação de combate ao terrorismo.