terça-feira, agosto 18, 2020

O SUICÍDIO DE RUI RIO

Rui Rio não conseguiu superar o contágio de uma velha doença de algumas bases do PSD, a incapacidade de ficar longe da manjedoura estatal durante muito tempo, levando-os a tentar chegar o poder a qualquer custo. E desta vez Rui Rio não resistiu à tentação e admite uma aliança com o chega, sendo óbvio para qualquer analista que quando são publicadas novas mensagens alguns líderes somam, de uma forma quase instintiva, os votos do Chega aos do PSD.

Não vamos dizer que é um erro, o partido é liderado por ele e a só a ele diz respeito a gestão da sua própria carreira. Pelo que se viu para o líder do PSD não importa a natureza dos responsáveis do chega, o mais importante é que façam de conta que não aquilo que são, para que o líder do PSD possa enfiar o barrete aos seus próprios eleitores, deixando personalidades como Sá Carneiro, Magalhães Mota e muitos outros fundadores do seu partido ficarem sem dar voltas no túmulo.

É evidente que cabe ao Rui Rio cuidar de si e do seu partido e do ponto de vista da esquerda apenas apetece dizer-lhe de uma forma cristã “vai filho, vais no bom caminho”. É óbvio que este PSD que sempre foi uma plataforma de assalto ao poder que escolheu a designação de “social-democrata” para enganar o freguês, acha que consegue chegar ao poder combinando com o André Ventura que este faz de conta que o Chega é do centro-direita enquanto que ele continua a fazer que é social-democrata, pouco importando que esteja a emporcalhar a imagem da social-democracia europeia enquanto o outro vai emporcalhando a pouca direita português que resta.

O líder do PSD que me perdoe, mas apetece-me dizer que este Rui Rio é mesmo parvo, o que não agrava significativamente a ideia que já tinha dele. Como é que se explica que se esteja a desenhar um frente a frente entre Marcelo Rebelo de Sousa, que por acaso é militante do seu partido quase desde a primeira hora, tendo sido seu presidente, enquanto o líder do PSD parece uma virgem a sugerir que abre uma exceção com o Ventura se ele passar por bom rapaz.

Esperemos que o Rui Rio vá mesmo em frente com este namoro porque a política portuguesa só tem a ganhar com a clarificação e talvez seja tempo de alguma ANP que a seguir ao 25 de Abril se escondeu no PSD dê finalmente a cara. É tempo de percebermos por onde anda a extrema-direita assintomática que ao longo de quatro décadas fez o sacrifício de fazer de conta que era democrática.