terça-feira, outubro 17, 2023

A ÚLTIMA GUERRA ISRAELO-ÁRABE?


Por ter interesse na cultura do povo judeu, uma cultura que de certa forma está impregnada na nossa própria cultura, costumo acompanhar  alguns youtubers israelitas. Nestes dias, este youtubers, que habitualmente se dedicavam a questões relacionadas com a cultura e religiões de Israel, transformaram-se em soldados sionistas.

Um deles, um youtuber de origem argentina, com filhos mobilizados para esta guerra, chegou a prever a criação de colonatos na faixa de Gaza, após a ocupação deste território por parte do exército israelita. Não me surpreendeu, sempre que ocorreu uma guerra entre árabes e israelitas, os mais sionistas aproveitaram para conquistar novos territórios, sucedeu com a Península do Sinai, que foi devolvida depois do acordo de paz com o Egipto, bem como uma parte substancial do território palestiniano e com os Montes Golan, território reconhecido internacionalmente como sírio.

Falta pouco para reduzir a palestina a dois guetos, depois de uma boa parte dos palestinianos terem sido empurrados para a diáspora restam 4,5 milhões, repartidos entre o que resta da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Na Cisjordânia a arma para confinar os palestinianos aí residentes num gueto tem sido obra dos colunatos. Agora chegou a vez de reduzir a Faixa de Gaza a metade, senão expulsar os palestinianos aí residentes para o Egipto ou para a Cisjordânia, um pequeno gueto que teria maior densidade populacional do que o execrável gueto de Varsóvia.

Tudo isto tem sucedido com o acordo e proteção dos EUA e o beneplácito da União Europeia, que tentam compensar a forma como ignoram o respeito de muitas resoluções da ONU e a violação sistemática da Carta das Nações Unidas e de todas as leis internacionais, com ajudas a territórios onde só se entra ou sai com a autorização de Israel. Cinicamente a UE, uma decisão vergonhosa, apressou-se a suspender todas as ajudas à Palestina, Cisjordânia incluída, logo a seguir aos ataques bárbaros por parte do Hamas. 

Só que em poucos dias Israel comportou-se de forma tão bárbara quanto o Hamas e se o mundo ficou indignado com as imagens de ataques extremistas, bem como com mentiras como a dos 40 bebés degolados, agora reage da mesma forma à barbárie dos bombardeamentos israelitas, que mais do que combater o Hamas visa criar um clima de terror, expulsando os palestinianos de metade da Faixa de Gaza, para a fronteira do Egipto, provavelmente na intenção de expulsar os palestinianos para este país, da mesma forma como no passado foram expulsos para países vizinhos como o Líbano ou a Jordânia.

Só que hoje já não há exércitos invencíveis nem tanques blindados indestrutíveis e poucas horas depois dos ataques israelitas, os EUA foram forçados a enviar aviões carregados de munições, a deslocar um porta-aviões acompanhado da sua força de ataque e vai um segundo a caminha, ainda não se sabe se para se juntar ao primeiro ou para o substituir, já que este está há quase 8 meses no mar, excedendo o tempo normal. Além disso, deslocaram muitos aviões de combate para a zona e preparam-se para deslocar mais 2.000 marines, para ajudar Israel se for necessário.

Isto é, os EUA sabem que se for desencadeada uma nova guerra Israelo-árabe, envolvendo os países árabes da região, bem como os turcos e iranianos, dificilmente Israel sairia vencedor. O Egipto, com os seus 109 milhões de habitantes já não tem um exército como no tempo de Nasser, A Arábia Saudita com 36 milhões de habitantes tem uma das forças armadas mais poderosas da região, o Irão que conta com 88 milhões de habitantes é hoje uma potência militar regional, superada em muito por uma Turquia com 85 milhões de habitantes é o segundo exército mais poderoso da NATO.

Se Israel começar uma guerra nunca saberá quando a mesma vai terminar, e se de início terá apenas o Hamas, também não sabe quantos países árabes e muçulmanos se juntarão ao conflito. Além disso também ninguém sabe quais as repercussões ao nível mundial, quer pela reação de outros países muçulmanos de todo o mudo, quer pelo risco de os países árabes voltarem a desencadear uma crise petrolífera, como sucedeu com o choque petrolífero de 1973.

Com as potências ocidentais a gastarem uma boa parte dos recursos no financiamento da guerra contra a Rússia, e com os seus arsenais quase vazios, depois de municiarem a ofensiva falhada de Zelensky, o Ocidente não está em condições económicas e militares para suportar uma nova guerra. Os países europeus dispõem de soldados e munições apenas para brincarem à guerra em exercícios militares que os generais de aviário tanto adoram. Depois de sucessivas crises financeiras internacionais, seguiu-se a pandemia de Covid-19 e pouco tempo depois a guerra na Ucrânia.

Mal comece uma guerra no Médio oriente o mundo entrará numa crise económica global, aprofundada por uma crise petrolífera, num momento em que a Europa já não suporta mais aumentos de preços de crude ou de gás natural, já que em consequência do fim do recurso ao gás russo uma boa parte da indústria alemã está à beira de uma crise.

E como se tudo isto não bastasse e. os problemas fossem poucos os EUA e a União Europeia tiveram a infeliz e inoportuna ideia de desencadear uma guerra económica com a China, de que dependem no que se refere a algumas matérias-primas estratégicas, como de bens manufaturados, como vimos durante a pandemia do Covid-19 e os problemas de abastecimento de material eletrónico que se lhe seguiu, por falta de contentores.

Os EUA sabem muito bem, ao contrário da pateta da senhora Ursula Von der Leyen, que se tem comportado nesta crise, iniciada com a guerra na Ucrânia, como uma galinha choca, que esta guerra envolve grandes riscos e num contexto de crise na Ucrânia, onde muitos desejam desencadear uma guerra mundial para derrotar os russos, o mundo pode estar à beira de um colapso.

Alguns líderes europeus, como o nosso António Costa, dera carta branca para matar por conta de um “direito a defender-se” quando o que está em causa é um direito a atacar e bombardear indiscriminadamente alvos civis, sabendo-se que os terroristas são os menos indefesos e por estarem em bunkers e túneis não serão os mais atingidos. Matar significa que serão mulheres e crianças as vítimas, já que os terroristas estão escondidos em túneis e bunkers. Parece que os EUA têm mais bom senso e foram os primeiros a pressionar Israel, sugerindo que está fora de questão ocupar a faixa de Gaza e tudo fazem para impedir ou retardar uma invasão, de consequências cada vez menos imprevisíveis.

Benjamim Netanyahu, que ignorou muitos dos avisos que recebeu, levando a crer que esperava e desejaria este ataque do Hamas, ainda que não tivesse previsto a dimensão de que veio a revestir-se, usando o argumento da defesa para acabar de vez com a Faixa de Gaza e segurar um Governo em crise e esquivar-se às perseguições da justiça israelita por acusações de corrupção, parece ter tido mais olhos do que barriga.

Agora o mundo pode estar à beira de uma nova guerra israelo-árabe de dimensões nunca vista e isso põe em perigo, primeiro do que tudo, a própria existência do Estado de Israel.