Ayamonte
Trata-se de uma imagem banal, mas foi assim ou um pouco mais ao longe que se via Ayamonte desde Vila Real de Santo António. Mas é uma imagem que tem um significado maior para quem teve mãe e avó nascidas em Espanha e ainda maior se disser que estas duas espanholas só puderam ir a Espanha em 1976, depois da morte de Francisco Franco.
Não imagino o que é ver a sua terra desde a porta de casa sem poder lá voltar de 1938 a 1976, sabendo que do outro lado do Guadiana, em Isla Cristina, vila de que ainda se conseguia ver o topo da igreja, estavam irmãos, tios e primos.
A minha mãe tinha nacionalidade portuguesa, ainda que lhe tenham aportuguesado o nome, alterando o apelido de de Gonzales para Gonçalves e colocando-o antes do apelido do pai, quando em Espanha o último apelido é o materno. No caso da minha avó a situação foi pior, durante 78 anos viveu em Portugal sem um único documento, isto é, sem quaisquer direitos, nunca foi a um centro da saúde e só beneficiou de uma pensão concedida pelo Estado espanhol.
É por estas e por outras, por ser uma espécie de trans, neste caso um transnacional, que detesto o nacionalismo enquanto ideologia, seja o nacionalismo de franco ou qualquer outra forma de nacionalismo extremista, que vai muito além do sentido de nação, sentimento que todos temos ou podemos ter, ainda que isso seja negado a vários povos do mundo, como o palestiniano ou o curdo, para não referir muitos outros que são perseguidos só por se afirmarem serem de nações que outros negam a sua existência.
Infelizmente, essa forma nefasta de nacionalismo egoísta está de regresso e se na Catalunha se ficou por uma crise política, noutras está dando lugar a guerras onde não há regras, onde, como declarou recentemente o ministro da Defesa israelita, povos que são referidos como meros animais, sem direito a qualquer Carta das Nações Unidas, ao respeito de qualquer convenção internacional, nem sequer a queixarem-se de ser vítimas de crimes de guerra. Muito pior do que isso, a comunicação social do nosso país segue este pensamento execrável e não noticia estes crimes de guerra, pior justifica-os como uma vingança legítima.
Este mundo vai de mal a pior, não foi só na Espanha de 1938, o país com mais valas comuns em todo o mundo, infelizmente, as vítimas destas guerras inspiradas num nacionalismo levado a ideologia continuam por todo o lado, em pleno século XXI.