segunda-feira, junho 28, 2021

O ELOGIO DA MEDIANIA

 


 

Os nossos heróis voltaram de Sevilha, feridos como se tivessem regressado da Batalha das Laranjas, e o nosso Presidente da República já lá estava à sua espera, como se tivesse acabado de regressar um avião cheio de soldados feridos no Zaire. 

Desta vez não tiveram direito a medalhas, mas esperemos que o Presidente não se tenha esquecido de lhes levar pasteis de Belém, para lhes adoçar as bocas, até porque estas deveriam estar a saber a papel de música. 

Finalmente terminou o espetáculo deprimente do futebol exibido pela seleção com alguns dos melhores jogadores europeus. Mas todos sabemos que se o engenheiro pudesse escolher uma seleção do mundo e no dia seguinte jogasse contra o Liechtenstein, o mais certo é que jogasse à defesa. Foi assim que chegou a campeão europeu, era assim que esperava renovar o título e como todos  nós somos uns patetas, já nos prometeu que iria ganhar o mundial. 

Num país onde o ótimo é inimigo do bom, onde se promove a mediania e onde não ter a posta do meio nos torna tão apetitosos ou apetitosas como as sardinhas, seria estranho se mesmo com bons jogadores um selecionador se lembrasse de ambicionar ter uma equipa a jogar bem. 

No fundo o engenheiro representa o melhor da alma portuguesa e não é apenas na sua devoção aos pastorinho, representa a nossa mediania, falta de ambição e nivelamento de tudo por baixo. Neste país ser ambicioso é defeito, ser brilhante é andar à procura de protagonismo e com treinadores destes foi tão injusto Portugal perder como o autor dos bonecos do Major Alvega nunca ter ganho o mercado Prémio Nobel da Literatura.