quarta-feira, julho 11, 2007

Uma Lisboa mais jovem


No dia em que se soube que Portugal registou o número de nascimentos mais baixo alguma vez registado pelas estatísticas vale a pena reflectir o problema na perspectiva de Lisboa. Habitualmente esta questão é suscitada na perspectiva do despovoamento do interior, no pressuposto de que as grandes cidades e, em particular, Lisboa são suficientemente atraentes para deslocar a população. Aliás, há a ideia generalizada que viver em Lisboa é só vantagens.

Nunca foi feito um estudo sério sobre a temática da natalidade, nunca se avaliaram os movimentos migratórios dentro do país, de onde vêm e para onde vão os portugueses, onde nascem ou deixaram de nascer. Da mesma forma, não se estudou seriamente as razões que levam os portugueses a ter menos filhos, o que tem levado a disparates, com alguns autarcas a pagarem subsídios ou os que se opõem ao aborto a equacionar a questão na perspectiva da natalidade.

No caso de Lisboa o envelhecimento da população é evidente, fenómeno que não é mais evidente porque a capital tem capacidade para exercer atracção sobre os jovens, nela se localizam algumas das grandes universidades portuguesas, bem como muitas das empresas que empregam jovens. Mas isso sugere que algum do rejuvenescimento de Lisboa se consegue à custa de outros concelhos, o que nos leva a questionar se não nascem ou para onde vão viver os lisboetas.

Em comparação com outros concelhos Lisboa é dos piores locais para nascer, o acesso aos cuidados de saúde não são tão bons como se diz, muitas das suas escolas do ensino básico são más e as escolas do segundo e terceiro ciclos não são muito melhores. A escola do meu bairro tinha 700 alunos há 25 anos atrás, agora tem pouco mais de cem, uma boa parte dos quais oriundos de bairros de reinserção social. Terá a natalidade descido assim tanto?

Ter um filho implica ter mais um quarto, aceder a cuidados de saúde e levá-lo à escola, tudo isso tem menos qualidade em Lisboa, o que leva a classe média que suporta a maior carga fiscal a dispensar os serviços públicos, suporta a habitação mais cara do país, recorre à clínica privada e na hora de mandar o filho para a creche recorre novamente ao sector privado. Muitos lisboetas suportam uma elevada carga fiscal, pagam taxas por tudo e por nada, compram as casas mais caras do país e na hora de aceder a um serviço público são induzidos a optar pelo sector privado.

Em Lisboa ou se é rico e evita-se ter filhos, ou se é pobre e o sucesso dos filhos está condenado pela má qualidade dos serviços públicos. A cidade acaba por ser uma Lisboa de lisboetas por adopção, uma boa parte dos que aí nascem acabam por ser “expulsos” para a periferia dando lugar aos mais bem sucedidos.

Por tudo isto a aposta na qualidade do ensino deve ser uma prioridade absoluta da sua autarquia, é necessário investir nas suas creches e escolas tornando o ensino público numa boa solução para todos os cidadãos. Apostar na juventude é apostar numa cidade mais jovem e competitiva.