segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Jogo perigoso

Este governo deseja a recuperação económica ou aposta na desgraça para viabilizar um projecto político que foi escondido dos eleitores e agora está a ser implementado com a cobertura da troika?

É difícil acreditar que os governantes não tenham consciência dos riscos que os portugueses correm com os excessos de austeridade para além da troika, a contracção económica é óbvia, já ninguém consegue esconder o aumento do desemprego, as receitas fiscais vão cair abruptamente. O resultado vai ser um aumento exponencial da dívida para níveis que conduzirão ao incumprimento.

De certeza que Vítor Gaspar não deseja este cenário?

Esta gente não se quer ficar pelo corte dos subsídios e pelos aumentos dos preços dos transportes e das taxas moderadoras, o que foi acordado com o Arménio está muito aquém do que constava no projecto de revisão constitucional do PSD em matéria de legislação laboral. Toda a gente sabe que há muito que alguma direita não esconde o desejo de despedir mais de cem mil funcionários públicos, de liberalizar a legislação laboral, de privatizar a segurança social e de destruir o SNS, a receita imposta à Grécia a troco do perdão de uma parte da dívida.

De certeza que os responsáveis pela política económica não desejam uma solução idêntica à imposta à Grécia a troco de ser a troika a impor o seu projecto político não assumido?

Ninguém vê este governo muito preocupado com os desempregados, com a destruição de uma boa parte do pequeno comércio ou com a contracção da economia, limitam-se assumirem o papel de bons alunos e já ninguém esconde o desejo de renegociar o memorando. Mas com a dívida a chegar aos 110% do PIB e com uma contracção económica que poderá ficar muito acima dos mentirosos 3% rapidamente estaremos no patamar dos 120% da Grécia.

A grande diferença entre os governantes portugueses e os gregos não está no sermos bons alunos e estarmos dispostos a ser humilhados pelo ministro das Finanças alemão ou pela senhora Merkel que nos tratam como se fosse um Estado em tratamento num dispensário para países tuberculosos. A grande diferença entre os gregos e os portugueses está no facto de o governo grego se ter oposto a muito do que a troika pretendia impor enquanto em Portugal é o governo português que parece sugerir à troika medidas cada vez mais duras contra o seu povo, enquanto o primeiro-ministro refere-se aos portugueses como piegas e usa o Carnaval para sugerir que são indolentes.

Esta estratégia manhosa da direita de aproveitar a crise financeira para suspender a democracia é fazer tábua rasa da Constituição é um jogo muito perigoso e ninguém sabe onde poderá conduzir o país. O que está a ser imposto à Grécia não é uma solução para os seus problemas, é um modelo económico e social, precisamente aquela que os nossos liberais defendem.