sábado, setembro 05, 2020

O ERRO

Por mais que se tente transformar o debate em torno da realização da Festa do Avante numa gloriosa batalha entre fascistas e democratas, a realização deste evento foi um erro. Aliás, esta estratégia defensiva do PCP, tentando silenciar qualquer crítica sugerindo que se é fascista ou que ainda se acredita que os comunistas comem crianças é um segundo erro. Dois erros de uma linha dura bem mais ortodoxa do que a dos tempos de Álvaro Cunhal e Carlos Carvalhas, que não tem conseguido impedir a queda eleitoral do partido.

Um erro porque se é verdade que a extrema-direita dos que se curam do tabagismo olhando para o André Ventura, também é verdade que a generalidade das pessoas não entendeu este gesto do PCP e depois de tanto sofrimento humano e um rastro de desgraça económica se organizem festas com esta dimensão. É lógico que os profissionais de saúde, os que não foram aos funerais de parentes e amigos, os que adiaram casamento, os que deixaram de acompanhar as suas cerimónias religiosas, os que viram as empresas ficarem falidas, os que ficaram fartos de olhar para as paredes e muitos outros terão pensado porquê o PCP optou por não dar o exemplo?

Como se entender que a poucos dias da festa Mário Nogueira, um dos mais destacados e conhecidos militantes do PCP, tenha a uma semana da Festa do Avante e a duas semanas da abertura do ano escolar, abrir o debate em torno da abertura das escolas, sugerindo que ia fazer queixas contra o governo por não estar a garantir condições de segurança. Isto é, uma boa parte das pessoas deixaram de debater a Festa do Avante para ficar preocupada com as escolas. Uma manobra de mestre, mas que poderia levar muita gente a perguntar ao Mário Nogueira se neste contexto não estava preocupado que uma semana antes da abertura da escola ainda se rezasse pela vinda de magotes de ingleses ou que se realizassem festas com mais de uma dezena de milhares de pessoas.

A Festa do Avante não foi uma greve dos metalúrgicos, o debate de uma moção de censura ou a aprovação do programa de um governo, para que fosse transformada numa grande batalha política, com comunistas, democratas, pequenos e micro empresários e intelectuais progressistas de um lado e a direita do outro. Foi uma festa e foi assim que a maioria dos portugueses a viram.

Veremos no futuro próximo e depois de milhões de críticas, piadas e mensagens nas redes sociais o que é que Jerónimo de Sousa ganhou com a sua teimosia e total ausência de bom senso.