terça-feira, outubro 10, 2006

O Erro de Sócrates


Sócrates sabe que a corrupção existirá sempre e que em Portugal o fenómeno sempre teve dimensões inadmissíveis, sabe também que nos últimos anos nada se fez para o combater e que mais tarde ou mais cedo os escândalos irão ocorrer, e que nessa ocasião de nada servirá perguntar quem nomeou os responsáveis para os altos cargos que lhes permitiu o acesso ao poder de decisão.
Mesmo que nos bastidores o Governo possa estar a criar dificuldades a alguns grupos de interesses, a mensagem que Sócrates faz passar é a de que está a enfrentar grupos de interesses associados a determinados grupos profissionais do Estado. Neste capítulo Sócrates tem vindo a ganhar pontos, os mesmos pontos que perderá se deixar transparecer que a coragem que tem para enfrentar interesses corporativos de profissionais honestos, não evidencia no combate aos corruptos.
Sócrates sabe que nalguns sectores da Administração Pública as teias tecidas por corruptos e gestores de influências dominam muitos dos lugares de chefia, sabe muito bem como se processaram muitas das nomeações no tempo de Durão Barroso e Santana Lopes. Sectores importantes para o Estado estão quase nas mãos de gente duvidosa.
Mas Sócrates preferiu o silêncio porque sempre que se fala em corrupção o alvo das suspeições são os políticos que estão no poder, e, como se isso não bastasse, optou por ser tolerante com a situação, ao evitar a substituição de muitas das chefias colocadas pelo Governo anterior, para dessa forma não ser acusado de saneamentos generalizados e colocações de boys, acabou por proteger gente que há muito deveriam ter sido saneada.
Não deixa de ser irónico que o governo do PSD tenha usado a bandeira da corrupção para sanear gente honesta e colocar nos seus lugares boys de honorabilidade duvidosa, e que Sócrates para não ser acusado de colocar boys possa estar a defender os altos cargos dessa gente duvidosa e incompetente.
Optando pelo silêncio Sócrates deu a iniciativa a Cavaco Silva, que aproveitou a nomeação do novo PGR para colocar o combate à corrupção na agenda da justiça, sabendo-se que todos os casos acabarão por corroer a imagem do poder.
Resta agora a Sócrates manter uma posição de passividade, dando o protagonismo aos procuradores, ou chamar a si a liderança do combate à corrupção, porque a forma mais eficaz de acabar com a corrupção está mais na prevenção do que na barra do tribunal. Os processos judiciais provocam muito alarido mas são totalmente ineficazes, como o tem demonstrado a história recente.