sábado, outubro 18, 2008

Orçamento, eleitoralismo e hipocrisia


Se recuarmos no tempo e relermos as exigências da oposição este orçamento seria considerado o OE que mais foi de encontro ao que a oposição tem exigido.

O PSD exige crescimento económico, preocupação com os pobres e menos impostos? Foi isto que o OE deu, reduções nos impostos, aumento das prestações para os mais pobres, manutenção dos investimentos do Estado.

O PCP quer aumento dos vencimentos, manutenção do emprego público e mais emprego no sector privado? Aí está tudo o que o PCP e o BE exigiram, não há novas medidas de reforma para o Estado, um aumento significativo para os funcionários e o lançamento de obras públicas que vão criar emprego de fatos de macaco a lembrar a cintura industrial de Lisboa.

Só que há um pequeno senão, para o ano há eleições para tudo e mais alguma coisa e o ideal seria o governo não ter dado ouvidos aos apelos de Cavaco Silva e das oposições, deveria ter esquecido as eleições, os pobres e a crise e prosseguido as reformas. Mas não o fez, optou por fazer a vontade ás oposições, foi eleitoralista.

O orçamento ideal não era este, deveria prosseguir na linha da obsessão orçamental, limitar os aumentos dos vencimentos a níveis inferiores abaixo da taxa de inflação, suspender as obras públicas e aumentar os impostos onde ainda houvesse margem para o fazer. Assim sim , teríamos um orçamento, sério, rigoroso e não eleitoralista.

Manuela Ferreira Leite bater-se-ia por reduções de impostos, retratar-se-ia junto dos funcionários públicos fazendo-os esquecer da forma canalha como foram tratados pelo governo de Durão Barroso, proporia redução de impostos da mesma forma que já se esqueceu de quando reteve abusivamente o iva dos exportadores para ajeitar o défice. Quase aposto que até encontraria solução para avançar com algumas obras públicas, para que a economia não resvalasse para a recessão.

Jerónimo de Sousa denunciaria o aumento do desemprego causado pela quebra dos investimentos do Estado, apareceria à frente das manifestações da função pública (como já o fez no passado) a exigir melhores vencimentos e promoveria umas manifestações organizadas pelos seus reformados que exibiriam bandeiras negras contra a fome.

Como o OE contém quase tudo o que a oposição exigia é eleitoralista. Até têm razão. As exigências da oposição são feitas a pensar votos, portanto, se Sócrates dá aquilo que a oposição exigia com objectivos eleitoralistas está igualmente a ser eleitoralista.

A verdade é que Sócrates tratou o cão com o pêlo do próprio cão e, como tem sido habitual, foi brindado com a ajuda resultante da incompetência das oposições. Em vez de apresentar exigências para o OE retirando a autoria das medidas a Sócrates a líder do PSD optou pela letargia silenciosa, andou mais preocupada com a escolha de Santana para candidato a Lisboa do que com o OE. Jerónimo de Sou optou por dar um ar mais sério e deixou de organizar manifestações com tiques neo-fascistas, como as esperas ao primeiro-ministro e as falsas manifestações espontâneas à porta do PS, ainda por cima tem andado atarefado a assegurar que todas as teses serão aprovadas pró unanimidade no próximo congresso. Louça deixou de ter anedotas novas e Paulo Portas parece que anda fugido.

Sócrates deu o que a oposição exigiu mas deixou de o fazer quando se aproximou a temporada orçamental. Agora queixam-se de eleitoralismo e até têm razão, só que dos parvos não reza a história e em matéria de oposição os líderes dos partidos dessa mesma oposição foram mesmo parvos, como se diz na gíria “foram comidos por parvos”.

Nem Cavaco Silva se escapou, com tanto apoio aos pobrezinhos vai ter que apoiar o OE ou calar-se, afinal, Sócrates até alabardou o burro à vontade do dono.