quinta-feira, abril 19, 2012

Desorientação

Será apenas uma impressão ou o governo começa a dar sinais de desorientação?

Tenta-se a todo o custo passar uma mensagem de optimismo mas não se consegue esconder o nervosismo. Num dia não será necessário um segundo resgate e no outro diz-se em entrevista a um jornal alemão que tal é possível, pouco depois escreve-se no FT que há quem diga por aí que é possível um segundo resgate.

O certo é que o optimismo vai-se desvanecendo e se considerarmos o comportamento de Paulo Portas como um barómetro do optimismo governamental constatamos que em vez de uma reunião da NATO o ministro dos Negócios optou por ir para mais longe aproveitando-se da crise na Guiné Bissau. Quanto melhor está a situação portuguesa mais perto anda e mais vezes aparece Paulo portas, quando as coisas dão para o torto o líder do CDS ou desaparece ou vai para longe.

Há dois meses atrás, quando a execução orçamental de Janeiro se revelou uma desgraça, o primeiro-ministro desvalorizou a queda acentuada da receita fiscal e garantiu quem em Maio já haveria sinais do esforço governamental. Estamos quase em finais de Abril, neste momento já o fisco sabe qual foi a receita do IVA relativa à actividade económica do passado mês de Janeiro. Neste momento o governo já dispõe de dados para avaliar o impacto fiscal das suas medidas e tem a percepção da exequibilidade do OE de 2012, entretanto já rectificado mas apenas parcialmente.

Neste momento o Gaspar sabe qual o desvio entre as receitas fiscais e as suas previsões, desvio que se deve uma mentira com base na qual todo o OE foi elaborado, a de que a recessão em 2012 se ficaria por 2,8%. Neste momento a projecção para a contracção da economia já ai em 3,3%, o impacto orçamental resultante do desemprego em bem superior ao revisto e o pessimismo dos portugueses pode levar a uma redução do consumo bem superior à que resulta dos excessos de austeridade decididos pelo governo.

Terá esta desorientação governamental algo a ver com uma evolução negativa da execução orçamental e, em consequência, com a necessidade de mais um pacote de austeridade para 2012 com o risco de o país cair numa espiral de recessão?

Se o Gaspar tiver de compensar um desvio colossal, desta vez verdadeiroe da sua interia responsabilidade vai aumentar os impostos (aproveitar-se para impor ao país um despedimento em massa de funcionários públicos, algo que o seu grupo de fundamentalistas sempre defendeu), alargar a perda de subsídios a todos os trabalhadores ou cumprir o memorando assinado pelo Governo de Sócrates e ir buscar fundos às PPP e às rendas da EDP? Gaspar vai usar o desvio para empobrecer ainda mais os portugueses ou será forçado a cumprir o memorando original e ser mais equilibrado na distribuição da austeridade?