quinta-feira, abril 12, 2012

Teoria económica da revolução

É uma pena que um governo que tem os seus valores formados no marginalismo não perceba que poderá estar a criar os fundamentos para uma teoria económica da revolução. Não me refiro, é óbvio, a governantes como Passos Coelho, Relvas ou mesmo o sô Álvaros, esses até parece que pensam com a barriga das pernas o que, aliás, já é um progresso em relação a outros membros deste governo que não pensam, como o Aguiar ou o Macedo dos polícias, que quando pensam era melhor não o terem feito, como a menina da justiça, que em vez de pensarem optam por rezar, como a Assunção Cristas, que poem um ar muito sério para darem ares de quem pensa, como o Paulo Macedo, ou que é melhor nem pensarmos no que eles estarão a pensar, como é o caso do Paulo Portas.

Se o Gaspar aplicasse às convulsões sociais o que andou a ensinar aos seus alunos sobre matérias como, por exemplo, a poupança, poderia muito bem desenvolver uma teoria económica (marginalista) da revolução. O povo torna-se revolucionário quando nada tem a ganhar sendo manso. Enquanto conseguem dar de comer aos filos, manter a casa e enfrentar a sociedade com dignidade os trabalhadores podem optar por serem mansos, mas quando já não têm nada a perder só poderão concluir que só terão a ganhar com uma revolução.

Veja-se o caso de Dimitris Chrisula, o farmacêutico aposentado que se suicidou em Atenas, o seu caso poderá não ser o da generalidade dos trabalhadores gregos, diz a polícia que era doente de cancro. Ainda que nestas coisas a polícia grega mereça tanta confiança quanto o director do Diário Económico, é evidente que o argumento invocado por Dimitris Chrisula assenta que nem uma luva nos argumentos dos teóricos do marginalismo. Quando forem muitos a pensar como ele haverá uma revolução, quando se conclui que vale a pena morrer também se conclui que vale a pena fazer tudo para sobreviver.

Os nossos governantes não ignoram esta realidade, tiveram o cuidado de aumentar o orçamento da Administração Interna e na primeira ocasião em que a polícia teve a oportunidade de molhar a sopa, foi o que se viu no Chiado. Alguns reforçaram as condições de segurança nos seus ministérios e vivem rodeados de um batalhão de homens armados, o problema é que apesar da tentação da ditadura falta-lhes o jeito. Ditador que se preze trata bem os seus polícias o que não é o caso dos nossos governantes, muitos dos que os protegem detestam-nos tanto quanto os manifestantes que estão do outro lado da rua, os seguranças das empresas privadas que estão ao seu serviços ganham miseravelmente e muitas vezes nem recebem os ordenados, os polícias perderam os subsídios e muitos deles passam fome.

Se Vítor Gaspar fizesse um intervalo para reflectir veria que em vez de ser a cobaia ideal para as loucas propostas económicas dos seus papers, o país está mais próximo do que poderá ser um modelo para uma teoria económica da revolução. Dezenas de milhares de pessoas estão à beira de ficar sem casa porque foram empobrecidos à força, há polícias que são obrigados a roubar para sobreviver, há magistrados a pedirem a sua própria insolvência em tribunal, centenas de milhares estão condenados ao desemprego.

Estão reunidas as condições para aparecerem muitos Dimitris Chrisulas e o que faz o governo? Enche os bolsos dos Teixeiras Pintos e Catrogas, esquece o prometido em relação ás gorduras do Estado, não extingue uma única fundação, a Parque Expo vai sobrevivendo e até já tem boys novos, as PPP estão na mesma e o acordado com a troika em relação à EDP já foi esquecido. As medidas que incidiriam sobre os ricos foram substituídas por mais austeridade sobre os que trabalham.

Por muito menos e com uma situação social bem menos grave há poucos anos discutiu-se muito o risco de o país assistir a convulsões sociais. Agora governam e comportam-se no pressuposto de que os portugueses foram capados.