Há um país na Europa com um governo que defende o empobrecimento dos trabalhadores, que desvaloriza o capital humano expulsando do país toda a sua intelectualidade, que liberaliza os despedimentos e reduz os direitos laborais à sua expressão simbólica, que pensa como se fosse um governo africano e até segue religiosa e obedientemente os conselhos de um senhor que ainda não percebeu que há diferenças entre a Etiópia e Portugal. Este derverá ser um verdadeiro paraíso asiático para os empresárioss que apostam na mão-de-obra barata, com a vantagem de se localizar na Europa. É de esperar uma correria em busca destes novos escravos, o investimento deverá estar a afluir em massa e a crer no que prometiam o crescimento já se fará sentir desde Junho e já se vê a criação de emprego, tal como se tinha prometido para o segundo semestre de 2012, promessa feita por um verdadeiro Rei Mago de nome Gaspar e que Cavaco Silva chegou a apregoar aos quatro ventos.
Mas algo corre mal, os esclavagistas não aparecem, o emprego está sendo destruído e até Cavaco já deixou de ser um devoto destes novos profetas, porque será que ninguém quer investir em Portugal? O que haverá de errado para que um país que supostamente está sendo transformado num paraíso para os empresários é encarado por receio pelos capitalistas e até ao momento só o pessoal do Partido Comunista da China investiu? O que haverá de errado neste paraíso empresarial de fazer inveja aos tigres asiáticos?
Desde logo o maior erro é pensar que a Europa pode encontrar competitividade na escravidão, nunca será possível um país europeu concorrer em produtos de baixo valor acrescentado com os países do norte de África ou com os países asiáticos. Nunca Portugal será mais competitivo do que o Egipto, a Tunísia ou a Índia. Se a ideia é competir com salários baixo então o que se paga na China não daria para alimentar um escravo em Portugal, isto é, nem com a escravidão se asseguraria a competitividade.
O segundo erro cometido por este casamento de incompetência e imbecilidade entre o governo português e o pessoal do imperador Salassie é ignorar que ninguém investe num país governado por doidos e incompetentes que ignoram a importância da estabilidade e da paz política e social, ninguém aposta num país onde o risco de instabilidade é mais próprio de um país africano como o do novo imperador. O governo pode recorrer à chantagem para silenciar temporariamente as centrais sindicais, até pode usar a influência de Belém para fabricar acordos de concertação da treta, mas a verdade é que há muito que os sindicalistas profissionais não representam nada nem ninguém e o risco de implosão social aumenta à medida que o Gaspar avança com o seu projecto paranóico.
O governo ainda não percebeu o dia 15 de Setembro, ainda não percebeu que o melhor povo do mundo veio para a rua sem o enquadramento da CGTP ou o estímulo ideológico do BE, veio espontaneamente, sem a mobilização de meses com que o Expresso promoveu a manifestação da geração à rasca, o povo saiu à rua porque estava farto. Mas os ministros estão convencidos de que a paz social depende do orçamento da PSP ou das facilidade que o Ponte venha a dar no acesso às imagens da RTP, ainda não perceberam que contra um milhão na rua o poder nada pode e que da próxima vez haverão mais do que um milhão de portugueses na rua e não exigirão apenas um recuo do governo, exigirão a sua demissão nesse mesmo dia.
Por outras palavras, nenhum empresário no seu pleno juízo investe num país onde um povo não se reconhece num governo que governa segundo uma agenda oculta e em quem ninguém votou e que usa um qualquer Salassie para assustar os seus concidadãos, tentando forçá-los a aceitar a ideias de uns rapazolas de extrema-direita. Sò um doido investe num país como Portugal.